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A Ilusão da Suprema Autoridade: O Verdadeiro Papel da Ciência na Aquisição do Conhecimento

Foto do escritor: Dr. Eduardo FidelisDr. Eduardo Fidelis

A ciência não é dogmática, mas um método em constante evolução. Compreender seus limites é essencial para evitar falsas noções de autoridade absoluta.


A ciência não nos ensina a verdade absoluta, mas sim os limites do que podemos conhecer com razoável grau de certeza. — Karl Popper


Nos dias atuais, a ciência é frequentemente evocada como a mais alta e inquestionável fonte de conhecimento. O discurso popular e midiático muitas vezes recorre a expressões como "a ciência provou que...", imbuindo-a de um status de autoridade quase infalível. No entanto, ao considerarmos a própria natureza da ciência, percebemos que essa posição é, na melhor das hipóteses, mal compreendida e, na pior, uma deturpação de seu verdadeiro papel no conhecimento humano.


A Natureza Contingente da Ciência

A ciência, em sua essência, é um método sistemático de investigação baseado na observação, experimentação e formulação de teorias falsificáveis. Ao contrário de um sistema dogmático, ela não se ancora em verdades absolutas, mas em modelos explicativos que permanecem válidos até que novas evidências os refutem ou modifiquem. Como destacou Thomas Kuhn em A Estrutura das Revoluções Científicas, a história da ciência é marcada por "mudanças de paradigma", em que teorias outrora amplamente aceitas foram substituídas por concepções mais abrangentes ou melhores adaptadas aos fenômenos observados.


Se tomarmos a física como exemplo, a teoria da gravitação de Newton vigorou por séculos até que a relatividade geral de Einstein demonstrou que sua explicação era limitada a contextos específicos. O mesmo se aplica a outras áreas do conhecimento científico: modelos são constantemente revisados, refinados e, por vezes, abandonados. Isso não significa que a ciência seja falha, mas sim que sua própria estrutura epistemológica é baseada na revisão contínua.


A Distinção Entre Realidade e Modelo Científico

Um aspecto crucial da ciência que muitas vezes passa despercebido é que ela não trata da realidade em si, mas de representações da realidade. A ciência não "descobre" verdades absolutas sobre o mundo, mas constrói modelos que permitem previsões eficazes e operacionalização do conhecimento. Como enfatizado pelo físico Werner Heisenberg, "O que observamos não é a natureza em si, mas a natureza exposta ao nosso método de questionamento."


Esse ponto é particularmente relevante quando consideramos a ciência experimental. A experimentação ocorre em condições controladas, muitas vezes artificialmente delimitadas para que variáveis possam ser isoladas. No entanto, a realidade é um complexo inextricável de fatores interagentes, e o que é estabelecido em um laboratório nem sempre se traduz diretamente para contextos mais amplos. Por isso, a ciência nunca pode ser vista como uma tradutora perfeita da realidade, mas como um instrumento de aproximação e compreensão limitada.


O Papel da Ciência no Conhecimento Humano

Se a ciência não é um oráculo da verdade absoluta, qual é, então, seu verdadeiro papel na aquisição do conhecimento? A resposta reside em sua capacidade de fornecer um método confiável para testar hipóteses, organizar experiências e construir um corpo progressivo de conhecimento.


A ciência não pode responder a questões de ordem metafísica ou moral, como "qual é o sentido da vida?" ou "o que é a justiça?". Essas perguntas transcendem seu escopo e pertencem a domínios como a filosofia e a teologia. No entanto, dentro de seus limites, a ciência se destaca ao permitir previsões e experimentos reproduzíveis, alicerçando a base tecnológica e pragmática da civilização moderna.


Portanto, a ciência deve ser compreendida não como um compêndio de verdades definitivas, mas como um processo dinâmico de refinamento do conhecimento humano. A ciência, em si, é apenas um dos muitos caminhos para a compreensão do mundo, e sua força reside na flexibilidade e na capacidade de revisão, e não em uma ilusão de infalibilidade.


Quando se atribui à ciência um papel absoluto na determinação da realidade, incorre-se em uma compreensão equivocada do próprio empreendimento científico. O verdadeiro poder da ciência não reside em sua suposta capacidade de revelar verdades eternas, mas em seu método rigoroso de investigação e aprimoramento contínuo do conhecimento humano. Ao entendermos e respeitarmos seus limites, podemos utilizá-la da melhor forma possível, sem cair na armadilha de uma visão dogmática da própria ciência.


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