Refletir sobre a morte não é um ato mórbido, mas um caminho para a paz interior e a maturidade espiritual, que nos liberta do medo e nos ensina a viver plenamente.
Vivemos num tempo onde o silêncio da alma foi abafado pelo ruído incessante de uma vida que se recusa a admitir a própria finitude. A sociedade moderna, em sua busca desenfreada pela juventude eterna e pela segurança material, negligencia o fato inexorável que nos espreita a cada instante: a morte. E assim, tornamo-nos vítimas de uma inquietação surda e sem nome, pois o que deveria ser um chamado à profundidade torna-se uma fonte de angústia e desespero. Contudo, na meditação sobre a morte, como a Igreja sabiamente propõe, reside um caminho para a verdadeira paz interior, para uma saúde psicológica profunda e duradoura.
A inquietude do coração humano, como bem nos lembrou Santo Agostinho, é uma marca da nossa constituição espiritual. "Fizeste-nos para Ti e o nosso coração está inquieto enquanto não repousa em Ti" (Confissões, Livro I). Essa frase, de uma profundidade inesgotável, exprime a verdade fundamental da condição humana: somos seres que anseiam pela eternidade, pela plenitude que não se encontra nos prazeres fugazes ou nas conquistas mundanas, mas somente no encontro com Deus. E a morte, longe de ser o fim desesperador, é o limiar dessa esperança, a porta que se abre para o cumprimento das nossas aspirações mais profundas. Ao meditarmos sobre a morte, somos confrontados com a nossa fragilidade, com o nosso despojamento de todas as ilusões de imortalidade terrena, e, paradoxalmente, isso nos dá força e saúde.
O costume moderno de evitar a reflexão sobre a morte é, na verdade, um sintoma de fraqueza. Insistimos em ignorar o elefante na sala, cobri-lo com um véu de eufemismos, entretenimento e negação, como se, ao desviar o olhar, pudéssemos aniquilar a sua realidade. A morte tornou-se o grande tabu, relegada ao esquecimento, ao hospital, ao funeral privado e rápido, para que não tenhamos que confrontar aquilo que não podemos controlar. Esta fuga nos condena a uma vida superficial, onde o medo se infiltra nas frestas da nossa inconsciência, gerando ansiedade, angústia e uma recusa em aceitar a vida como ela é: um percurso cujo fim está inevitavelmente marcado. Negar a morte é, em última instância, negar a própria vida.
A meditação sobre a morte, por outro lado, nos traz ao presente de maneira plena, ajudando-nos a compreender o verdadeiro valor do momento presente e a relativizar nossas preocupações triviais. Quando refletimos sobre nossa própria finitude, passamos a entender que as pequenas vaidades e disputas diárias perdem o sentido, que a busca desesperada por prazeres passageiros não pode preencher o vazio que reside em nosso ser. Este tipo de reflexão nos ajuda a amadurecer psicologicamente, pois nos liberta das amarras da vaidade e do orgulho, permitindo-nos viver de acordo com aquilo que é verdadeiramente importante. É apenas à luz da morte que podemos discernir o valor real de cada coisa e encontrar um sentido que transcende o efêmero.
Como afirmou São Paulo, "Ó, morte, onde está tua vitória?". O cristão, ao meditar sobre a morte, não o faz com temor, mas com a confiança de quem sabe que a morte não tem a palavra final. Cristo venceu a morte, e é n'Ele que encontramos a resposta para a nossa inquietação existencial. A meditação sobre a morte, portanto, não é um exercício mórbido, mas um ato de coragem, uma afirmação de fé e de esperança. Ela nos ensina que a vida só encontra seu pleno significado quando vista à luz da eternidade, quando aceitamos que não fomos feitos apenas para esta terra, mas para algo infinitamente maior.
Por isso, caro leitor, não tema a morte. Olhe-a nos olhos, reconheça nela uma irmã que nos convida a abandonar o que é transitório e abraçar o que é eterno. Não se deixe aprisionar pelo medo que paralisa, pela ansiedade que rouba a paz. Recorde-se das palavras do próprio Cristo: "Coragem, eu venci o mundo". Essa é a promessa que deve nos sustentar. Meditar sobre a morte é, em última análise, meditar sobre a vida em sua plenitude, sobre a vitória do amor sobre o medo, sobre a eternidade que nos espera. E é justamente essa consciência que pode trazer à nossa alma a verdadeira paz, aquela que o mundo não pode dar.
Se você gostou deste artigo, compartilhe com seus amigos e familiares e deixe um comentário abaixo.
Comments