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Café e o trato gastrointestinal: existe relação?

Apesar de sua fama controversa, o café pode não ser o responsável direto por lesões no sistema digestivo. Descubra como a ciência redefine seu papel.


“Nada é veneno, tudo é veneno: a diferença está na dose.” A célebre máxima de Paracelso traduz a sutileza do debate sobre o café e sua influência sobre o trato gastrointestinal. Em um contexto de vigilância nutricional crescente, o café é ora exaltado como estimulante benéfico, ora acusado de inimigo da saúde digestiva. Mas afinal, seria ele um agente de lesões como gastrite, úlceras ou esofagite? Ou apenas um potencial agravador de desconfortos já presentes? Este artigo buscará responder a essas questões com base nas evidências mais atuais.


O café como causador de lesões gastrointestinais: mito esclarecido pela ciência

Durante décadas, a recomendação para evitar o café foi comum entre pacientes com gastrite e úlceras. A crença repousava na ideia intuitiva de que, por ser ácido e estimulador da secreção gástrica, o café teria papel direto na origem dessas lesões. No entanto, as evidências acumuladas desafiam essa concepção. Hoje, sabe-se que os principais causadores de gastrite crônica e úlcera péptica são a infecção por Helicobacter pylori e o uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs).


Estudos epidemiológicos robustos e meta-análises indicam que o consumo habitual de café não está associado ao aumento de risco para o surgimento dessas condições. Uma pesquisa japonesa envolvendo mais de 8 mil indivíduos revelou que, mesmo entre os que consumiam três ou mais xícaras diárias, não houve incremento na incidência de gastrite ou úlcera em comparação aos não consumidores. Além disso, não se observou relação entre o café e a presença da infecção por H. pylori. Em investigações laboratoriais, compostos do café mostraram até propriedades antibacterianas contra essa bactéria.


Algumas exceções pontuais, como um estudo indonésio que sugeriu associação entre café e gastrite, carecem de força conclusiva por estarem sujeitas a vieses locais e limitações metodológicas. Assim, à luz do conhecimento atual, o café não se configura como causa direta de gastrite, úlcera ou esofagite.


Café e sintomas gastrointestinais: papel relevante como agravante

Se o café não é causador direto de lesões, seu impacto sobre os sintomas é inegável. Em indivíduos com dispepsia funcional, a ingestão da bebida pode precipitar desconforto, como dor epigástrica e queimação. De modo similar, entre portadores de doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), o café surge frequentemente como desencadeador de sintomas, embora não como fator de origem da doença.


Metanálises revelam que o consumo de café, em geral, não se associa ao aumento da incidência de DRGE ou esofagite. Entretanto, subgrupos específicos e situações de consumo elevado demonstram agravamento dos sintomas. Estudos indicam que grandes volumes diários de café — inclusive descafeinado — podem intensificar episódios de azia e regurgitação, sugerindo que outros componentes da bebida, além da cafeína, também desempenham papel relevante.


Essa influência sobre os sintomas decorre de mecanismos fisiológicos bem compreendidos: o café relaxa o esfíncter esofágico inferior e estimula a secreção ácida, condições que favorecem o refluxo e o desconforto. Em pacientes sensíveis, a substituição do café por outras bebidas pode resultar em notável alívio.


Conclusão

Em síntese, o café não é, na maioria dos casos, responsável direto pelo surgimento das lesões do trato gastrointestinal. Gastrite, úlcera e esofagite têm causas principais bem definidas e distintas. Contudo, a bebida se revela capaz de agravar sintomas já existentes, tornando-se um fator relevante no manejo clínico de pacientes sintomáticos.


A orientação prudente, portanto, é evitar ou reduzir o consumo de café durante fases agudas de gastrite, úlceras ou crises de refluxo. Após a resolução do quadro, sua reintrodução moderada pode ser realizada, sempre respeitando a tolerância individual. Assim, o café não deve ser demonizado, tampouco consumido indiscriminadamente. É nesse equilíbrio atento e individualizado que reside a abordagem mais sábia para o consumo dessa bebida milenar.


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Dr. Eduardo Fidelis

Médico CRM 206808 | Pós-graduado em Nutrologia Esportiva

Emagrecimento • Hipertrofia • Educação Alimentar • Qualidade de Vida

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FIDELIS MEDICINA ESPORTIVA LTDA

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