Recentemente, o prefeito Eduardo Paes confirmou a veracidade de sua promessa de campanha de disponibilizar o medicamento semaglutida – amplamente conhecido pelo nome comercial Ozempic – na rede pública de saúde do Rio de Janeiro, o que suscita reflexões profundas. Embora louvável na superfície, esta iniciativa pode ser criticada não apenas por seu aparente apelo populista, mas também por negligenciar soluções estruturais e sustentáveis para o combate à obesidade, uma das mais graves crises de saúde pública contemporâneas.
Medida Populista ou Necessária?
Como destaco em muitas aulas do DietEvolution, a obesidade e o sobrepeso afetam cerca de 60% da população brasileira, sendo causa determinante de outras doenças crônicas e da redução tanto da qualidade quanto da expectativa de vida. Esta pandemia é exacerbada, dentre outros fatores, pela abundância de alimentos ultraprocessados, pelo sedentarismo e pela desinformação nutricional. Entretanto, a distribuição de um medicamento que reduz o apetite – mesmo sendo eficaz – não resolve as causas estruturais e culturais desse problema.
A distribuição de Ozempic é anunciada com metas de disponibilizar 3 mil doses por mês a partir de 2026. Isso atende, sem dúvida, à demanda crescente de soluções rápidas para o controle de peso, mas também parece uma tática de marketing político. Ao apresentar um remédio como solução central, a medida falha em abordar as disparidades socioeconômicas que são a raiz do problema.
Reflexões Críticas Sobre as Condições de Vida na Cidade do Rio de Janeiro
Espaços para Atividade Física
É importante questionar se os moradores de áreas carentes do Rio de Janeiro, onde o crime organizado controla territórios, têm condições reais de praticar atividades físicas ao ar livre. Embora o prefeito também tenha prometido criar parques públicos, a segurança nessas regiões é uma barreira significativa para a população mais vulnerável, perpetuando o ciclo de inatividade física.
Acessibilidade de Alimentos Saudáveis
Outro ponto crucial é a dificuldade de acesso a alimentos saudáveis e nutritivos. As famílias de baixa renda enfrentam um paradoxo cruel: alimentos ultraprocessados, ricos em calorias e pobres em nutrientes, são mais baratos e acessíveis do que frutas, legumes e fontes de proteína. Nesse contexto, depender de medicamentos para reduzir o apetite não resolve o problema de fundo, que é o acesso a alimentos saudáveis e nutritivos.
Educação Nutricional: A Verdadeira Solução
A iniciativa do programa DietEvolution é um exemplo de solução que busca a educação e autonomia alimentar como pilares para o combate à obesidade e sobrepeso. O programa enfatiza a reeducação alimentar e a importância de escolhas conscientes, contrastando com a solução medicamentosa oferecida pela gestão municipal. Essa abordagem reforça que a verdadeira revolução no combate à obesidade exige um plano integrado, envolvendo desde políticas de segurança alimentar até mudanças ambientais e nos hábitos pessoais.
O Custo de Um Medicamento
Embora a promessa de distribuição gratuita do Ozempic pareça inclusiva, há questões de custo que precisam ser consideradas. Quem arcará com os custos? E, mais importante, essa verba não poderia ser alocada para projetos mais sustentáveis, como hortas comunitárias, educação alimentar em escolas e melhorias na infraestrutura de segurança para práticas esportivas? Entenda: nenhuma obra governamental é verdadeiramente gratuita.
Conclusão
A medida de disponibilizar Ozempic na rede pública é, sem dúvida, um alívio imediato para muitas pessoas. Contudo, como qualquer solução paliativa, ela não aborda os fundamentos do problema. Atacar a obesidade com medicamentos sem criar condições para uma vida mais saudável perpetua uma cultura de dependência e ignora as causas primeiras.
Se o objetivo é promover uma saúde pública de qualidade, é necessário repensar essa abordagem. A combinação de educação alimentar, acessibilidade a alimentos saudáveis, infraestrutura urbana para atividades físicas e segurança pública deve ser priorizada. Somente assim poderemos enfrentar de forma integral o desafio da obesidade e melhorar a qualidade de vida da população carioca.
Komentar