Como o Exercício Físico Melhora a Saúde Mental
- Dr. Eduardo Fidelis
- 17 de mar.
- 5 min de leitura
Entenda como a prática regular de exercícios físicos impacta profundamente a saúde mental, aliviando sintomas de depressão e ansiedade.
“A atividade física não adiciona apenas anos à sua vida, mas vida aos seus anos.” Essa máxima reflete um fato amplamente documentado: o exercício físico transcende a melhora da saúde cardiovascular e metabólica e se revela uma ferramenta terapêutica poderosa para a saúde mental.
Com a ascensão exponencial dos casos de ansiedade e depressão, compreender como o exercício atua como modulador do bem-estar psicológico é fundamental. Estudos apontam que tanto o treinamento aeróbico quanto o resistido são capazes de atenuar significativamente sintomas de transtornos psiquiátricos, estimulando a neuroplasticidade e modulando neurotransmissores cruciais para o equilíbrio emocional. O objetivo deste texto é explorar, com base em evidências científicas robustas, os mecanismos fisiológicos e neuroquímicos do exercício e sua eficácia como estratégia terapêutica e preventiva na saúde mental.
Os Mecanismos Neurais do Exercício e a Saúde Mental
O impacto do exercício sobre a saúde mental opera em diversas esferas, abrangendo processos fisiológicos, neuroquímicos e psicológicos. No nível neurobiológico, a atividade física desencadeia a liberação de fatores neurotróficos, como o BDNF (Brain-Derived Neurotrophic Factor), essencial para a neuroplasticidade e proteção neuronal (Basso & Suzuki, 2017). Além disso, há um efeito direto sobre a regulação dos níveis de serotonina e dopamina, neurotransmissores que desempenham papel-chave no humor e na motivação (Pearce et al., 2022).
Estudos demonstram que o exercício físico reduz marcadores inflamatórios sistêmicos frequentemente elevados em indivíduos com transtornos depressivos (Heissel et al., 2023). Esse efeito anti-inflamatório colabora para a mitigação de sintomas depressivos e ansiosos. Ademais, a modulação do eixo hipotalâmico-hipófise-adrenal contribui para a redução do estresse crônico e seus impactos negativos na saúde mental (Svensson et al., 2021).
O uso de neuroimagem reforça a relevância do exercício na remodelação cerebral. Praticantes regulares de atividades físicas apresentam maior densidade de substância cinzenta em áreas como o hipocampo e o córtex pré-frontal – estruturas fundamentais para a regulação emocional e a tomada de decisões (Chan et al., 2019). Isso sugere que a atividade física pode ser uma estratégia eficaz para prevenir o declínio cognitivo e transtornos mentais.
Exercício Físico e a Redução da Depressão
A depressão, uma das doenças mais prevalentes globalmente, representa um desafio significativo no campo da saúde mental. Metanálises indicam que a prática regular de exercícios reduz o risco de desenvolver depressão em até 25% (Pearce et al., 2022).
O treinamento de resistência, em particular, tem se mostrado eficaz na redução de sintomas depressivos, independentemente da frequência ou intensidade da atividade (Gordon et al., 2018). Além disso, pesquisas sugerem que os efeitos antidepressivos do exercício podem ser equiparáveis aos de abordagens convencionais, como psicoterapia e farmacoterapia, principalmente quando a atividade física é incorporada a programas supervisionados (Heissel et al., 2023).
A Relação Entre Exercício e Ansiedade
O exercício físico também desempenha um papel fundamental no manejo da ansiedade. Estudos indicam que atividades aeróbicas, como corrida e natação, reduzem a hiperatividade do sistema nervoso simpático e promovem relaxamento por meio da liberação de endorfinas (Chan et al., 2019).
A regulação dos níveis de cortisol – hormônio do estresse – também é um mecanismo chave na redução da ansiedade por meio da prática de atividades físicas (Svensson et al., 2021). Além disso, pesquisas indicam que o treinamento de resistência apresenta benefícios semelhantes aos dos exercícios aeróbicos na redução da ansiedade (Gordon et al., 2017), ampliando as possibilidades terapêuticas para diferentes perfis de indivíduos.
O impacto psicológico da atividade física não deve ser subestimado. Exercícios em grupo, por exemplo, fortalecem laços interpessoais e oferecem suporte social, minimizando a solidão e o isolamento – fatores frequentemente correlacionados a quadros de ansiedade e depressão (Basso & Suzuki, 2017).
Exercício, Sono e Qualidade de Vida
Os benefícios do exercício físico vão além da regulação do humor. A prática regular de atividades físicas melhora significativamente a qualidade do sono, reduzindo o tempo necessário para adormecer e aumentando a eficiência do descanso (Ferreira et al., 2023). Como consequência, indivíduos fisicamente ativos relatam maiores níveis de energia, melhor capacidade cognitiva e maior estabilidade emocional.
A influência do exercício na longevidade e na redução da incidência de doenças neurodegenerativas também merece destaque. Estudos longitudinais indicam que pessoas fisicamente ativas têm menor risco de desenvolver demência e declínio cognitivo na velhice (Iso-Markku et al., 2022). Assim, promover a prática regular de exercícios desde a juventude representa um investimento fundamental na saúde mental a longo prazo.
Conclusão
O exercício físico se consolida como uma estratégia indispensável para a promoção da saúde mental. Seus benefícios ultrapassam a esfera da prevenção e tratamento da depressão e ansiedade, alcançando também a melhora da qualidade do sono, a manutenção da função cognitiva e a construção de um bem-estar psicológico duradouro.
Ao considerar as evidências científicas disponíveis, torna-se imperativo incentivar a atividade física como um pilar da saúde pública. Para maximizar seus efeitos, é essencial combiná-la a uma alimentação equilibrada e a um conhecimento sólido sobre nutrição, como o fornecido pelo DietEvolution. Capacitar cada indivíduo a assumir o protagonismo de sua saúde física e mental é um passo crucial para o bem-estar coletivo e a qualidade de vida.
REFERÊNCIAS:
Cunha, P. M., Werneck, A. O., Santos, L., Oliveira, M. D., Zou, L., Schuch, F. B., & Cyrino, E. S. (2024). Can resistance training improve mental health outcomes in older adults? A systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Psychiatry Research, 115746. https://doi.org/10.1016/j.psychres.2024.115746
Ferreira, M. F., Bos, S. C., & Macedo, A. F. (2023). The impact of physical activity on objective sleep of people with insomnia. Psychiatry Research, 115019. https://doi.org/10.1016/j.psychres.2022.115019
Basso, J. C., & Suzuki, W. A. (2017). The effects of acute exercise on mood, cognition, neurophysiology, and neurochemical pathways: A review. Brain Plasticity, 2(1), 127-152. https://doi.org/10.3233/BPL-160040
Chan, J. S. Y., Liu, G., Liang, D., Deng, K., Wu, J., & Yan, J. H. (2019). Special Issue – Therapeutic Benefits of Physical Activity for Mood: A Systematic Review on the Effects of Exercise Intensity, Duration, and Modality. The Journal of Psychology, 153(1), 102-125. https://doi.org/10.1080/00223980.2018.1470487
Heissel, A., Heinen, D., Brokmeier, L. L., Skarabis, N., Kangas, M., Vancampfort, D., Stubbs, B., Firth, J., Ward, P. B., Rosenbaum, S., & Hallgren, M. (2023). Exercise as medicine for depressive symptoms? A systematic review and meta-analysis with meta-regression. British Journal of Sports Medicine, 57(1049–1057). https://doi.org/10.1136/bjsports-2022-106282
Svensson, M., Brundin, L., Erhardt, S., Hållmarker, U., James, S., & Deierborg, T. (2021). Physical activity is associated with lower long-term incidence of anxiety in a population-based, large-scale study. Frontiers in Psychiatry, 12, 714014. https://doi.org/10.3389/fpsyt.2021.714014
Pearce, M., Garcia, L., Abbas, A., Strain, T., Schuch, F. B., Golubic, R., Kelly, P., Khan, S., Utukuri, M., Laird, Y., Mok, A., Smith, A., Tainio, M., Brage, S., & Woodcock, J. (2022). Association between physical activity and risk of depression: A systematic review and meta-analysis. JAMA Psychiatry, 79(6), 550-559. https://doi.org/10.1001/jamapsychiatry.2022.0609
Iso-Markku, P., Kujala, U. M., Knittle, K., Polet, J., Vuoksimaa, E., & Waller, K. (2022). Physical activity as a protective factor for dementia and Alzheimer’s disease: Systematic review, meta-analysis, and quality assessment of cohort and case–control studies. British Journal of Sports Medicine, 56(701–709). https://doi.org/10.1136/bjsports-2021-104981
Firth, J., Cotter, J., Elliott, R., French, P., & Yung, A. R. (2015). A systematic review and meta-analysis of exercise interventions in schizophrenia patients. Psychological Medicine, 45(7), 1343-1361. https://doi.org/10.1017/S0033291714003110
Gordon, B. R., McDowell, C. P., Lyons, M., & Herring, M. P. (2017). The effects of resistance exercise training on anxiety: A meta-analysis and meta-regression analysis of randomized controlled trials. Sports Medicine, 47(12), 2521-2532. https://doi.org/10.1007/s40279-017-0769-0
Gordon, B. R., McDowell, C. P., Hallgren, M., Meyer, J. D., Lyons, M., & Herring, M. P. (2018). Association of efficacy of resistance exercise training with depressive symptoms: Meta-analysis and meta-regression analysis of randomized clinical trials. JAMA Psychiatry, 75(6), 566-576. https://doi.org/10.1001/jamapsychiatry.2018.0572
Barahona-Fuentes, G., Ojeda, Á. H., & Chirosa-Ríos, L. (2021). Effects of training with different modes of strength intervention on psychosocial disorders in adolescents: A systematic review and meta-analysis. International Journal of Environmental Research and Public Health, 18(9477). https://doi.org/10.3390/ijerph18189477
Comments