Mounjaro (Tirzepatida): Uma Revisão
- Dr. Eduardo Fidelis
- 12 de mai.
- 35 min de leitura
Atualizado: 12 de mai.
Conheça o Mounjaro (tirzepatida), a revolução no controle do diabetes e da obesidade, com resultados inéditos de até 20% de perda de peso.
O Mounjaro® [1], nome comercial da tirzepatida, representa uma inovação farmacológica de grande impacto no tratamento do diabetes tipo 2 e da obesidade. Trata-se do primeiro agonista dual dos receptores de GIP e GLP-1 aprovado para uso clínico [2]. Esse fármaco peptídico mimético de incretinas foi desenvolvido pela Eli Lilly e inaugura uma nova classe terapêutica, muitas vezes chamada de “twincretina”, por ativar simultaneamente dois hormônios intestinais chave no metabolismo glicêmico e na regulação do apetite. Descoberta em meados da década de 2010, a tirzepatida foi projetada para potencializar os efeitos antidiabéticos e anorexígenos combinados do polipeptídeo inibitório gástrico (GIP) e do peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1 (GLP-1) [3, 4]. Em poucos anos, os ensaios clínicos demonstraram resultados sem precedentes em controle glicêmico e perda ponderal, levando a rápida aprovação regulatória mundial [5, 6]. Este artigo revisa as evidências científicas sobre o Mounjaro (tirzepatida).
Descoberta, Desenvolvimento e Aprovação
O Mounjaro® tem como princípio ativo a tirzepatida, um peptídeo sintético de 39 aminoácidos desenvolvido pela Eli Lilly [7]. A molécula (código LY3298176 durante a pesquisa) foi projetada em 2016 combinando sequências análogas de GIP e GLP-1 em um único agonista de ação prolongada [8, 9]. A formulação inclui modificação por ácido graxo para prolongar a meia-vida, permitindo administração semanal subcutânea [10]. A hipótese fundamental era de que a ativação dual incretínica poderia superar a eficácia dos agonistas isolados de GLP-1, explorando a potencial sinergia entre GIP e GLP-1 no metabolismo [11].
A tirzepatida avançou rapidamente para estudos clínicos de fase 2 e 3, integrando dois grandes programas: o programa SURPASS, focado em diabetes tipo 2, e o programa SURMOUNT, voltado à obesidade [12, 13]. Nos estudos SURPASS 1–5 (em pacientes com DM2), doses semanais de 5 a 15 mg de tirzepatida reduziram a hemoglobina glicada em ~1,2–2,6 pontos percentuais e o peso corporal em 5,4–11,7 kg – resultados inéditos para um único agente antidiabético [14]. Já no estudo SURMOUNT-1 (pacientes com obesidade sem diabetes), 72 semanas de tratamento resultaram em perda de peso média de aproximadamente 20% do peso corporal na maior dose de 15 [15]. Tais perdas correspondem a cerca de 22–23 kg em indivíduos obesos (peso inicial ~105 kg) e cerca de 12% de redução em indivíduos com DM2 (peso inicial ~100 kg) [16, 17]. Esses achados, inéditos no contexto não cirúrgico, posicionaram a tirzepatida como uma terapia de eficácia superior aos tratamentos farmacológicos existentes para diabetes e obesidade [18, 19].
Aprovações regulatórias globais: Em maio de 2022, a agência norte-americana FDA aprovou a tirzepatida para diabetes tipo 2 sob o nome comercial Mounjaro [20], classificando-a como first-in-class. Subsequentemente, houve aprovações no Japão e Europa em setembro de 2022, no Canadá em novembro de 2022 e na Austrália em dezembro de 2022 [21]. Devido ao impacto nos desfechos de peso, iniciaram-se estudos para indicação em obesidade, culminando na aprovação da tirzepatida para controle crônico de peso nos EUA em outubro de 2023 (sob o nome Zepbound) [22]. A indicação aprovada pelo FDA abrange adultos com obesidade (IMC ≥30) ou sobrepeso (IMC ≥27) com comorbidades relacionadas ao peso, sempre em conjunto com dieta hipocalórica e exercícios [23]. De forma semelhante, em novembro de 2023 o Reino Unido atualizou a indicação do Mounjaro para incluir tratamento da obesidade [24]. Vale destacar que em dezembro de 2024 a FDA ainda ampliou as indicações do Zepbound para incluir tratamento de apneia obstrutiva do sono moderada a grave associada à obesidade [25], refletindo os benefícios metabólicos amplos da perda de peso.
No Brasil, o Mounjaro® (tirzepatida) foi aprovado pela Anvisa em 25 de setembro de 2023 para o tratamento de diabetes tipo 2 [26]. Trata-se de um medicamento novo registrado como adjuvante à dieta e exercícios para controle glicêmico em adultos com DM2 [27]. Apesar do registro em 2023, a Eli Lilly optou por postergar a comercialização até garantir estoque suficiente para a demanda contínua prevista [28]. Em abril de 2025, a empresa anunciou o lançamento antecipado do Mounjaro no Brasil: as canetas de tirzepatida chegaram às farmácias brasileiras na primeira quinzena de maio de 2025 [29], adiantando um cronograma antes previsto para junho. Inicialmente, foram disponibilizadas no mercado nacional apresentações de canetas autoinjetoras descartáveis de dose única de 2,5 mg e 5 mg (doses iniciais de titulação) [30], vendidas em embalagens com 4 unidades (um mês de tratamento) [31]. A aprovação formal para indicação em obesidade ainda está pendente no país – a Lilly já submeteu pedido à Anvisa para tal extensão [32]. Enquanto isso, a utilização para perda de peso permanece off-label, embora bastante aguardada pela comunidade médica e pacientes devido aos efeitos comprovados de emagrecimento.
Notoriedade e Tendências de Uso
Mecanismo de Ação e Efeitos Sistêmicos
Visão geral do mecanismo
A tirzepatida é um agonista simultâneo dos receptores de GIP e GLP-1 [49]. Ambas são incretinas – hormônios secretados pelo intestino em resposta à ingestão alimentar. O GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon-1) e o GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose) compartilham efeitos de estimulação da secreção de insulina pelas células β pancreáticas, de forma glicose-dependente (ou seja, atuam predominantemente quando a glicemia está elevada) [50, 51]. O GLP-1 também inibe a secreção de glucagon pelas células α do pâncreas, retarda o esvaziamento gástrico e promove saciedade via ação em núcleos hipotalâmicos. Já o GIP, além de potencializar a secreção de insulina, possui efeitos complexos que incluem modulação do metabolismo lipídico e possivelmente ação no centro da saciedade em determinadas circunstâncias [52]. A tirzepatida, ao ativar duas vias incretínicas de uma só vez, consegue reduzir a glicemia e o apetite de modo mais robusto do que os agonistas seletivos de GLP-1 disponíveis [53, 54].

Efeito nas vias de fome e saciedade
A tirzepatida age no eixo neuroendócrino do apetite. Os receptores de GLP-1 e GIP são expressos no hipotálamo e em outras regiões do cérebro que regulam a saciedade [55, 56]. Assim, o fármaco reduz o sinal de fome e promove saciedade, levando a menor ingestão calórica. Estudos indicam que tanto a tirzepatida quanto agonistas puros de GLP-1 reduzem a ingestão alimentar e o apetite de maneira semelhante, mas a tirzepatida produz maior perda de peso possivelmente por efeitos periféricos adicionais [57]. Notavelmente, o GLP-1 diminui o esvaziamento gástrico (prolongando a sensação de estômago cheio) e influencia neurônios pró-opiomelanocortina (POMC) no hipotálamo, suprimindo o apetite. Já o papel do GIP na saciedade é menos claro: em modelos animais, agonistas de GIP reduziram a ingestão, porém em humanos o GIP isoladamente não demonstrou diminuir o apetite de forma consistente [58]. Ainda assim, a co-ativação GIP + GLP-1 parece reconfigurar os sinais metabólicos de maneira vantajosa – por exemplo, a presença do agonismo GIP pode atenuar alguns mecanismos compensatórios que limitariam a eficácia do GLP-1 isolado [59, 60]. Essa área permanece em investigação, mas a hipótese é que o GIP exerça efeitos “permissivos” sobre tecidos adiposos e musculares, potencializando a oxidação de glicose e ácidos graxos quando em sinergia com o GLP-1 [61].
Efeito nos tecidos periféricos
Além do cérebro e pâncreas, a tirzepatida mostra ações metabólicas sistêmicas: ela melhora sensibilidade à insulina nos músculos e fígado e reduz níveis de glicemia de jejum e pós-prandial de forma mais acentuada que a semaglutida, por exemplo [62]. Em estudos, pacientes em tirzepatida exibiram menores níveis de insulina endógena circulante e menor secreção de glucagon após refeições do que aqueles em GLP-1 isolado, sugerindo eficiência metabólica aumentada (mais captação de glicose pelos tecidos) [63]. Há também indícios de que o GIP agonista, quando combinado ao GLP-1, atue em receptores presentes em órgãos como coração e vasos sanguíneos, promovendo efeitos benéficos como redução de inflamação vascular e prevenção de remodelamento arterial [64]. Dados experimentais em roedores mostram que a estimulação do receptor de GIP pode ter efeito antiaterosclerótico, possivelmente mediado por ações diretas no endotélio e coração [65]. Em tecido adiposo, as incretinas parecem modular a deposição de gordura e a liberação de adipocinas; a tirzepatida, ao levar a perda de peso, reduz significativamente a massa de gordura corporal total (média −34% em 72 semanas, contra −8% no placebo) [66].
Efeitos cardiovasculares
Dada a alta eficácia glicêmica e ponderal, investiga-se se a tirzepatida traduz isso em benefícios cardiovasculares diretos. Até o momento, uma análise combinada dos estudos de fase 3 (meta-análise do programa SURPASS) não identificou aumento de eventos cardiovasculares maiores (MACE-4) com a tirzepatida – ao contrário, houve tendência de redução de eventos como infarto e AVC em até 2 anos de acompanhamento [67]. Os hazard ratios para eventos cardiovasculares em usuários de tirzepatida foram ≤1.0 em comparação aos controles, com limites superiores de intervalo de confiança <1.3, cumprindo critérios convencionais de segurança cardiovascular [68]. Esses dados satisfazem as exigências regulatórias iniciais, mas um estudo clínico dedicado de desfechos cardiovasculares (SURPASS-CVOT) está em andamento para confirmar redução de risco CV a longo prazo. Independentemente disso, a melhora significativa de fatores de risco – peso, glicemia, pressão arterial e lipídios – já posiciona a tirzepatida como benéfica no perfil cardiometabólico global dos pacientes [69, 70]. Vale ressaltar que a perda de peso de 10–20% obtida com o fármaco associa-se intrinsecamente a melhora de condições como hipertensão, dislipidemia e apneia do sono [71, 72], o que por si só reduz risco de eventos cardiovasculares e mortalidade.
Mounjaro É Superior aos Outros Medicamentos (Wegovy, Ozempic, Xenical, Saxenda etc.)?
Mounjaro vs Bariátrica: Qual Compesnsa Mais?
Indicações e Populações Beneficiadas
Contraindicações
Potenciais Efeitos Adversos
Como Tomar
Mounjaro: Emagrecer Sem Mudar Hábitos?
Importantes Considerações Ético-sociais
A ascensão de medicamentos como a tirzepatida traz não apenas considerações médicas, mas também questões éticas e sociais relativas ao manejo da obesidade e do metabolismo humano. Exploraremos alguns desses aspectos:
Redefinição da obesidade como doença tratável
Ainda é comum que a obesidade seja encarada exclusivamente como resultado de falta de força de vontade, gula ou preguiça, o que, invariavelmente, leva a estigma e julgamento moral impreciso dos indivíduos com excesso de peso. Essa perspectiva, muitas vezes reducionista e simplista, negligencia outros fatores que contribuem com a causa da doença. Com o surgimento de fármacos eficazes como o Mounjaro, testemunhamos uma quebra de paradigmas: a obesidade se firma cada vez mais como condição médica crônica passível de intervenção terapêutica, semelhante, neste aspecto, a hipertensão ou asma, dando aos obesos nova perspectiva de sucesso no combate à doença.
Autonomia e responsabilização
Por outro lado, levanta-se a preocupação de que esses medicamentos fomentem a noção de “pílula mágica”, desresponsabilizando o indivíduo de qualquer esforço pessoal. Há quem argumente que depositar nos medicamentos a solução de um problema tão complexo quanto a obsedidade, teria como efeito a negligência da ênfase na necessidade de mudanças nos hábitos (melhor alimentação, combate ao sedentarismo etc.).
Equidade e acesso
Uma grande preocupação social é a acessibilidade desses novos tratamentos. O Mounjaro, assim como o Wegovy, tem custo elevado e cobertura de seguros limitada. Isso levanta questões de justiça distributiva: somente os pacientes abonados poderão se beneficiar de tal avanço?
Sem cair em extremos, isto é, de afirmar, por um lado, que nada se pode fazer a esse respeito ou, por outro lado, de defender a distribuiçao "gratuita" no Sistema Único de Saúde ou sua incorporação irrestrita na cobertura dos planos de saúde, é necessário que o debate seja fomentado para que se chegue a uma conclusão justa e viável.
Uso estético vs. terapêutico, o problema dos "remédios para emagrecer" ou das "canetas emagrecedoras"
Outra questão envolve o uso inadequado do medicamento, sem indicação formal. Isso vai de encontro às indicações aprovadas, desperdiça recursos, dificulta ainda mais o acesso ao medicamento para quem realmente precisa - como aconteceu com o Ozempic -, além de expor pessoas a riscos desnecessários.
A banalização do uso do medicamento, disseminado sobretudo por famosos de redes sociais, chega ao ponto de atribuir aos medicamentos mais eficazes contra a que talvez seja a prncipal doença do nosso século, a obesidade, o slogan de "remédio para emagrecer" ou "caneta emagrecedora", o que distorce e falseia totalmente o modo como profissionais sérios veem o medicamento. Boa parte da comunidade médica e regulatória, ciente de tais problemas, têm respondido à altura, e restrições, como a receita controlada citada no Brasil [149], já estão em vigência.
Impacto psicológico e social da perda de peso
Há implicações psicossociais importantes quando um paciente perde muito peso rapidamente. Enquanto muitos experimentam grande melhora de autoestima e inserção social, outos podem enfrentar desafios psicológicos – por exemplo, lidar com “excesso de pele” após emagrecimento. Portanto, idealmente o tratamento farmacológico viria acompanhado de apoio psicoterapêutico ou grupos de apoio, ajudando o indivíduo a ajustar-se às mudanças e manter mente saudável.
Interesses comerciais e pesquisa futura
Com o sucesso do Mounjaro, iniciou-se uma corrida farmacêutica por novos agentes antiobesidade. Estimam-se mais de 100 moléculas em desenvolvimento visando esse mercado bilionário [150]. Isso traz preocupações como: quais serão os preços? Haverá transparência nas pesquisas? A pressão de mercado poderia atropelar etapas de segurança? Felizmente, os estudos do Mounjaro até aqui foram bem conduzidos e publicados em periódicos de alto impacto. Mas é vital manter rigor científico e regulatório em meio ao entusiasmo, para não repetir erros do passado (medicamentos antiobesidade lançados sem adequada avaliação já causaram danos, vide anfetaminas nos anos 60, ou o caso do rimonabanto retirado por efeitos psiquiátricos). Os médicos devem se atualizar constantemente e basear decisões em evidências e guidelines, não apenas em marketing.
De maneira pragmática, o consenso atual é que a chegada de medicamentos como o Mounjaro é um avanço positivo e necessário no combate a enfermidades crônicas prevalentes.
Conclusões
O Mounjaro® (tirzepatida) desponta na medicina contemporânea como um fármaco transformador no manejo do diabetes tipo 2 e da obesidade. Fruto de um notável avanço científico – a combinação inédita de dois hormônios incretínicos em uma única molécula – a tirzepatida demonstrou em ensaios clínicos de boa qualidade uma eficácia sem precedentes, reduzindo substancialmente a glicemia e promovendo perdas ponderais similares às observadas em procedimentos cirúrgicos. Desde seu desenvolvimento pela Eli Lilly em 2016 até as aprovações regulatórias globais em 2022–2023, o caminho da tirzepatida tem sido marcado por resultados clínicos surpreendentes e entusiasmo da comunidade médica.
Este artigo revisitou de forma abrangente os principais aspectos dessa nova terapia:
(1) O Mounjaro é um agonista dual de GIP/GLP-1, desenvolvido a partir do conceito de “twincretinas” e lançado comercialmente em 2022 nos EUA e 2023 no Brasil, trazendo ao mercado uma opção inovadora para diabetes e potencialmente obesidade.
(2) Sua notoriedade decorre da magnitude de seus efeitos – mais controle glicêmico e mais emagrecimento – o que se traduziu em alta demanda e vendas expressivas mundialmente, ao mesmo tempo suscitando discussões sobre acesso e regulação de uso.
(3) Mecanisticamente, a tirzepatida age nos eixos pancreático, cerebral e periférico: aumenta sensibilidade à insulina e saciedade, diminui glucagon e retarda esvaziamento gástrico, melhorando diversas vias metabólicas.
(4) Diferencia-se de medicamentos anteriores (p.ex. semaglutida) por ativar duplamente receptores hormonais, explicando sua eficácia superior.
(5) Em termos de tamanho de efeito, consolidou-se como a farmacoterapia mais potente para perda de peso atualmente, superando outras medicações antiobesidade – isso foi evidenciado por múltiplas comparações e tabelas apresentadas.
(6) Em comparação aos procedimentos bariátricos, observamos que embora a cirurgia mantenha vantagem na quantidade média de perda de peso e independa de uso contínuo de fármacos, a tirzepatida oferece uma alternativa não invasiva com eficácia similar e perfil de riscos diferente. Um balanço de fatores individuais (gravidade da obesidade, comorbidades, preferências, acesso) guiará a escolha entre medicação e cirurgia, sendo provável que muitos pacientes transitem por ambas as modalidades em diferentes fases.
(7) As indicações formais da tirzepatida abrangem hoje adultos com DM2 e, em certos países, obesidade/ sobrepeso com comorbidades; enquanto isso, off-label, ela vem sendo empregada com critério por especialistas em obesidade grave.
(8) As contraindicações restringem seu uso em contextos de risco de carcinoma medular de tireoide, reações alérgicas e recomendam cautela em pancreatite, gestação e outras situações especiais.
(9) Os efeitos colaterais, principalmente gastrointestinais, são comuns porém manejáveis e tendem a diminuir com o tempo e titulação adequada; eventos graves são raros e em geral compartilhados com a classe dos incretinomiméticos.
(10) A administração semanal subcutânea e o esquema de titulação foram detalhados, reforçando a necessidade de escalonamento gradual e adesão de longo prazo.
(11) Ressaltou-se que a tirzepatida não exime a manutenção de dieta saudável e exercícios – ao contrário, potencializa os resultados quando em conjunto – e que pacientes devem ter expectativas realistas e compreensão da natureza contínua do tratamento para manutenção de benefícios.
Nas implicações éticas e sociais, conclui-se que o advento do Mounjaro simboliza uma mudança de paradigma: temos agora ferramentas para tratar agressivamente a obesidade como doença, o que obriga o sistema de saúde a se adaptar, garantindo que essa inovação seja utilizada com equidade e responsabilidade. A jornada do paciente obeso/diabético tende a melhorar substancialmente com medicações como a tirzepatida, mas ainda depende de suporte multidisciplinar abrangente (nutricional, psicológico, educacional).
Do ponto de vista da prática médica, o Mounjaro já é considerado por muitos “o principal lançamento da história” da Eli Lilly [151] e possivelmente um dos avanços mais significativos na medicina das últimas décadas. Os resultados obtidos com a tirzepatida abrem caminho para que mais pacientes alcancem metas clínicas antes inatingíveis – como controle glicêmico rigoroso sem hipoglicemias, ou perdas de peso que transformam sua saúde. Ao mesmo tempo, sua utilização requer cuidadosa seleção de pacientes, monitorização atenta e integração em planos terapêuticos completos.
Em conclusão, o Mounjaro (tirzepatida) representa um extraordinário progresso técnico-científico com impacto direto na prática clínica, trazendo melhor controle metabólico e esperança renovada a milhões de pessoas com diabetes e obesidade. Cabe aos profissionais de saúde aplicar esse recurso com excelência técnica e ética, e aos gestores e formuladores de políticas de saúde trabalharem para tornar essa inovação acessível. Assim, poderemos concretizar plenamente o potencial desse medicamento revolucionário – salvando vidas, melhorando qualidade de vida e reduzindo o ônus global das doenças metabólicas. Os próximos anos certamente trarão mais dados de segurança de longo prazo, expansões de indicação e novas moléculas baseadas nesse conceito dual/triple incretin; mas por ora, a tirzepatida já se firmou como um marco na história do tratamento metabólico, reunindo evidências contundentes de eficácia e segurança que respaldam seu uso judicioso em prática clínica.
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