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Mounjaro (Tirzepatida): Uma Revisão

Atualizado: 12 de mai.

Conheça o Mounjaro (tirzepatida), a revolução no controle do diabetes e da obesidade, com resultados inéditos de até 20% de perda de peso.


O Mounjaro® [1], nome comercial da tirzepatida, representa uma inovação farmacológica de grande impacto no tratamento do diabetes tipo 2 e da obesidade. Trata-se do primeiro agonista dual dos receptores de GIP e GLP-1 aprovado para uso clínico [2]. Esse fármaco peptídico mimético de incretinas foi desenvolvido pela Eli Lilly e inaugura uma nova classe terapêutica, muitas vezes chamada de “twincretina”, por ativar simultaneamente dois hormônios intestinais chave no metabolismo glicêmico e na regulação do apetite. Descoberta em meados da década de 2010, a tirzepatida foi projetada para potencializar os efeitos antidiabéticos e anorexígenos combinados do polipeptídeo inibitório gástrico (GIP) e do peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1 (GLP-1) [3, 4]. Em poucos anos, os ensaios clínicos demonstraram resultados sem precedentes em controle glicêmico e perda ponderal, levando a rápida aprovação regulatória mundial [5, 6]. Este artigo revisa as evidências científicas sobre o Mounjaro (tirzepatida).


  1. Descoberta, Desenvolvimento e Aprovação

O Mounjaro® tem como princípio ativo a tirzepatida, um peptídeo sintético de 39 aminoácidos desenvolvido pela Eli Lilly [7]. A molécula (código LY3298176 durante a pesquisa) foi projetada em 2016 combinando sequências análogas de GIP e GLP-1 em um único agonista de ação prolongada [8, 9]. A formulação inclui modificação por ácido graxo para prolongar a meia-vida, permitindo administração semanal subcutânea [10]. A hipótese fundamental era de que a ativação dual incretínica poderia superar a eficácia dos agonistas isolados de GLP-1, explorando a potencial sinergia entre GIP e GLP-1 no metabolismo [11].


A tirzepatida avançou rapidamente para estudos clínicos de fase 2 e 3, integrando dois grandes programas: o programa SURPASS, focado em diabetes tipo 2, e o programa SURMOUNT, voltado à obesidade [12, 13]. Nos estudos SURPASS 1–5 (em pacientes com DM2), doses semanais de 5 a 15 mg de tirzepatida reduziram a hemoglobina glicada em ~1,2–2,6 pontos percentuais e o peso corporal em 5,4–11,7 kg – resultados inéditos para um único agente antidiabético [14]. Já no estudo SURMOUNT-1 (pacientes com obesidade sem diabetes), 72 semanas de tratamento resultaram em perda de peso média de aproximadamente 20% do peso corporal na maior dose de 15 [15]. Tais perdas correspondem a cerca de 22–23 kg em indivíduos obesos (peso inicial ~105 kg) e cerca de 12% de redução em indivíduos com DM2 (peso inicial ~100 kg) [16, 17]. Esses achados, inéditos no contexto não cirúrgico, posicionaram a tirzepatida como uma terapia de eficácia superior aos tratamentos farmacológicos existentes para diabetes e obesidade [18, 19].


Aprovações regulatórias globais: Em maio de 2022, a agência norte-americana FDA aprovou a tirzepatida para diabetes tipo 2 sob o nome comercial Mounjaro [20], classificando-a como first-in-class. Subsequentemente, houve aprovações no Japão e Europa em setembro de 2022, no Canadá em novembro de 2022 e na Austrália em dezembro de 2022 [21]. Devido ao impacto nos desfechos de peso, iniciaram-se estudos para indicação em obesidade, culminando na aprovação da tirzepatida para controle crônico de peso nos EUA em outubro de 2023 (sob o nome Zepbound) [22]. A indicação aprovada pelo FDA abrange adultos com obesidade (IMC ≥30) ou sobrepeso (IMC ≥27) com comorbidades relacionadas ao peso, sempre em conjunto com dieta hipocalórica e exercícios [23]. De forma semelhante, em novembro de 2023 o Reino Unido atualizou a indicação do Mounjaro para incluir tratamento da obesidade [24]. Vale destacar que em dezembro de 2024 a FDA ainda ampliou as indicações do Zepbound para incluir tratamento de apneia obstrutiva do sono moderada a grave associada à obesidade [25], refletindo os benefícios metabólicos amplos da perda de peso.


No Brasil, o Mounjaro® (tirzepatida) foi aprovado pela Anvisa em 25 de setembro de 2023 para o tratamento de diabetes tipo 2 [26]. Trata-se de um medicamento novo registrado como adjuvante à dieta e exercícios para controle glicêmico em adultos com DM2 [27]. Apesar do registro em 2023, a Eli Lilly optou por postergar a comercialização até garantir estoque suficiente para a demanda contínua prevista [28]. Em abril de 2025, a empresa anunciou o lançamento antecipado do Mounjaro no Brasil: as canetas de tirzepatida chegaram às farmácias brasileiras na primeira quinzena de maio de 2025 [29], adiantando um cronograma antes previsto para junho. Inicialmente, foram disponibilizadas no mercado nacional apresentações de canetas autoinjetoras descartáveis de dose única de 2,5 mg e 5 mg (doses iniciais de titulação) [30], vendidas em embalagens com 4 unidades (um mês de tratamento) [31]. A aprovação formal para indicação em obesidade ainda está pendente no país – a Lilly já submeteu pedido à Anvisa para tal extensão [32]. Enquanto isso, a utilização para perda de peso permanece off-label, embora bastante aguardada pela comunidade médica e pacientes devido aos efeitos comprovados de emagrecimento.

  1. Notoriedade e Tendências de Uso

Por que tanta repercussão?

O Mounjaro ganhou notoriedade internacional pela magnitude de seus efeitos terapêuticos, especialmente na perda ponderal expressiva observada em estudos clínicos. Em participantes com obesidade, a tirzepatida promoveu perdas médias de ~20% do peso corporal em cerca de 1 ano e meio [33] – um resultado antes só esperado com cirurgias bariátricas. De fato, aproximadamente 9 em cada 10 pacientes tratados com tirzepatida em ensaios alcançaram pelo menos 5% de perda de peso, e mais da metade perdeu 20% ou mais do peso inicial [34]. Essa eficácia inédita tornou o fármaco objeto de grande atenção midiática e científica.


Além disso, vivenciamos nos últimos anos uma espécie de “revolução” no tratamento da obesidade, com o surgimento de medicamentos capazes de resultados substanciais (semaglutida, tirzepatida etc.). A tirzepatida despontou como principal concorrente da semaglutida (Wegovy®/Ozempic®) [35], superando-a tanto em perda de peso quanto em controle glicêmico nos estudos comparativos [36, 37]. Por exemplo, dados clínicos recentes anunciados em dezembro de 2024 indicaram que tirzepatida propiciou 47% mais perda de peso relativa em comparação à semaglutida (Wegovy) [38]. Essa vantagem foi confirmada em análises de mundo real e contribuiu para o enorme interesse no fármaco [39].


Demanda e vendas em outros países

A repercussão positiva rapidamente se traduziu em alta demanda global. Nos Estados Unidos, muitos médicos passaram a prescrever tirzepatida off-label para pacientes com obesidade mesmo antes da aprovação oficial para essa indicação [40]. Como consequência, houve estoque insuficiente e relatos de falta do medicamento em 2023, dado o número de pessoas buscando essa opção [41]. As vendas atingiram patamares impressionantes: somente em seu primeiro ano completo no mercado (2023), as vendas do Mounjaro ultrapassaram US$ 5 bilhões [42], tornando-o já um dos medicamentos mais importantes do portfólio da Eli Lilly. Projeções de mercado estimam que as vendas anuais possam triplicar nos próximos anos, chegando a ~US$ 16 bilhões em 2024 [43], impulsionadas pela ampliação de indicação para obesidade. Esse sucesso comercial reflete o fenômeno social mais amplo em torno dos chamados “remédios para emagrecer”: em 2023–2024, termos como “Ozempic” e “Mounjaro” dominaram tendências em redes sociais e foram adotados por celebridades, alimentando ainda mais a procura pelo tratamento.


No Brasil

Desde a aprovação pela Anvisa em 2023, o Mounjaro causou alvoroço no país [44]. Muitos pacientes e médicos brasileiros acompanham de perto as notícias internacionais e aguardavam a disponibilidade local. A demanda latente foi tamanha que, para prevenir uso indevido e garantir segurança, a Anvisa publicou em março de 2025 uma portaria incluindo os agonistas de GLP-1 (tirzepatida, semaglutida) na lista de medicamentos que exigem receita médica controlada (tal como antibióticos) [45]. Ou seja, a compra agora requer retenção de receita especial, medida destinada a coibir a automedicação e o comércio irregular. De fato, antes mesmo do lançamento oficial, já havia casos de importação paralela e vendas ilícitas da tirzepatida no Brasil – a chegada oficial com distribuição ampla visa mitigar esse problema e assegurar que os pacientes tenham acesso de forma segura e legal [46, 47].


Em síntese, o Mounjaro ganhou fama por ser um “game changer” no manejo da obesidade e diabetes, entregando resultados antes inatingíveis com medicamentos [48]. Essa notoriedade tem um lado benéfico – mais atenção à obesidade enquanto doença crônica e mais opções terapêuticas disponíveis – mas traz desafios, como garantir o uso racional, o acesso equitativo e a sustentabilidade do tratamento diante de seu alto custo e demanda exponencial (discutidos nas seções finais deste relatório).

  1. Mecanismo de Ação e Efeitos Sistêmicos

Visão geral do mecanismo

A tirzepatida é um agonista simultâneo dos receptores de GIP e GLP-1 [49]. Ambas são incretinas – hormônios secretados pelo intestino em resposta à ingestão alimentar. O GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon-1) e o GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose) compartilham efeitos de estimulação da secreção de insulina pelas células β pancreáticas, de forma glicose-dependente (ou seja, atuam predominantemente quando a glicemia está elevada) [50, 51]. O GLP-1 também inibe a secreção de glucagon pelas células α do pâncreas, retarda o esvaziamento gástrico e promove saciedade via ação em núcleos hipotalâmicos. Já o GIP, além de potencializar a secreção de insulina, possui efeitos complexos que incluem modulação do metabolismo lipídico e possivelmente ação no centro da saciedade em determinadas circunstâncias [52]. A tirzepatida, ao ativar duas vias incretínicas de uma só vez, consegue reduzir a glicemia e o apetite de modo mais robusto do que os agonistas seletivos de GLP-1 disponíveis [53, 54].


mecanismo de ação mounjaro tirzepatida emagrecimento perder peso
 Figura 1: Diagrama esquemático ilustrando a sinalização intracelular desencadeada pela tirzepatida nas células β pancreáticas. O fármaco ativa receptores de GIP e GLP-1 acoplados à proteína Gs, levando à ativação da adenilato ciclase e aumento de AMPc. Isso desencadeia a via PKA, resultando em maior exocitose de insulina (círculos azuis à direita). Em paralelo, há modulação da expressão gênica e melhora na função das células β. Fonte: adaptado de News Medical, 2024.

Efeito nas vias de fome e saciedade

A tirzepatida age no eixo neuroendócrino do apetite. Os receptores de GLP-1 e GIP são expressos no hipotálamo e em outras regiões do cérebro que regulam a saciedade [55, 56]. Assim, o fármaco reduz o sinal de fome e promove saciedade, levando a menor ingestão calórica. Estudos indicam que tanto a tirzepatida quanto agonistas puros de GLP-1 reduzem a ingestão alimentar e o apetite de maneira semelhante, mas a tirzepatida produz maior perda de peso possivelmente por efeitos periféricos adicionais [57]. Notavelmente, o GLP-1 diminui o esvaziamento gástrico (prolongando a sensação de estômago cheio) e influencia neurônios pró-opiomelanocortina (POMC) no hipotálamo, suprimindo o apetite. Já o papel do GIP na saciedade é menos claro: em modelos animais, agonistas de GIP reduziram a ingestão, porém em humanos o GIP isoladamente não demonstrou diminuir o apetite de forma consistente [58]. Ainda assim, a co-ativação GIP + GLP-1 parece reconfigurar os sinais metabólicos de maneira vantajosa – por exemplo, a presença do agonismo GIP pode atenuar alguns mecanismos compensatórios que limitariam a eficácia do GLP-1 isolado [59, 60]. Essa área permanece em investigação, mas a hipótese é que o GIP exerça efeitos “permissivos” sobre tecidos adiposos e musculares, potencializando a oxidação de glicose e ácidos graxos quando em sinergia com o GLP-1 [61].


Efeito nos tecidos periféricos

Além do cérebro e pâncreas, a tirzepatida mostra ações metabólicas sistêmicas: ela melhora sensibilidade à insulina nos músculos e fígado e reduz níveis de glicemia de jejum e pós-prandial de forma mais acentuada que a semaglutida, por exemplo [62]. Em estudos, pacientes em tirzepatida exibiram menores níveis de insulina endógena circulante e menor secreção de glucagon após refeições do que aqueles em GLP-1 isolado, sugerindo eficiência metabólica aumentada (mais captação de glicose pelos tecidos) [63]. Há também indícios de que o GIP agonista, quando combinado ao GLP-1, atue em receptores presentes em órgãos como coração e vasos sanguíneos, promovendo efeitos benéficos como redução de inflamação vascular e prevenção de remodelamento arterial [64]. Dados experimentais em roedores mostram que a estimulação do receptor de GIP pode ter efeito antiaterosclerótico, possivelmente mediado por ações diretas no endotélio e coração [65]. Em tecido adiposo, as incretinas parecem modular a deposição de gordura e a liberação de adipocinas; a tirzepatida, ao levar a perda de peso, reduz significativamente a massa de gordura corporal total (média −34% em 72 semanas, contra −8% no placebo) [66].


Efeitos cardiovasculares

Dada a alta eficácia glicêmica e ponderal, investiga-se se a tirzepatida traduz isso em benefícios cardiovasculares diretos. Até o momento, uma análise combinada dos estudos de fase 3 (meta-análise do programa SURPASS) não identificou aumento de eventos cardiovasculares maiores (MACE-4) com a tirzepatida – ao contrário, houve tendência de redução de eventos como infarto e AVC em até 2 anos de acompanhamento [67]. Os hazard ratios para eventos cardiovasculares em usuários de tirzepatida foram ≤1.0 em comparação aos controles, com limites superiores de intervalo de confiança <1.3, cumprindo critérios convencionais de segurança cardiovascular [68]. Esses dados satisfazem as exigências regulatórias iniciais, mas um estudo clínico dedicado de desfechos cardiovasculares (SURPASS-CVOT) está em andamento para confirmar redução de risco CV a longo prazo. Independentemente disso, a melhora significativa de fatores de risco – peso, glicemia, pressão arterial e lipídios – já posiciona a tirzepatida como benéfica no perfil cardiometabólico global dos pacientes [69, 70]. Vale ressaltar que a perda de peso de 10–20% obtida com o fármaco associa-se intrinsecamente a melhora de condições como hipertensão, dislipidemia e apneia do sono [71, 72], o que por si só reduz risco de eventos cardiovasculares e mortalidade.


  1. Mounjaro É Superior aos Outros Medicamentos (Wegovy, Ozempic, Xenical, Saxenda etc.)?


Diferenças em relação a agonistas de GLP-1 (ex.: semaglutida)

A principal distinção mecanística da tirzepatida é atuar em dois receptores hormonais, ao passo que medicamentos como semaglutida (Ozempic®/Wegovy®) atuam apenas no receptor de GLP-1. Em outras palavras, a semaglutida mimetiza exclusivamente o GLP-1 – hormônio que regula a saciedade e a glicemia – enquanto a tirzepatida mimetiza GLP-1 e GIP, agregando o estímulo à insulina mediado por esta segunda incretina [73]. Essa dupla agonização confere à tirzepatida uma potência maior na secreção de insulina pós-prandial e no controle do açúcar no sangue [74]. Na prática clínica, observou-se que a tirzepatida reduziu a hemoglobina glicada e o peso de forma significativamente superior à semaglutida 1 mg (dose padrão para DM2) em um estudo fase 3 (SURPASS-2) [75]. Nesse estudo, a dose de 5 mg/semana de tirzepatida já promoveu mais redução de HbA1c e peso do que 1 mg de semaglutida [76]. Os resultados completos mostraram HbA1c final ~6,0% com tirzepatida vs ~6,6% com semaglutida, e perda de peso média de −9,3 kg com tirzepatida 15 mg vs −5,7 kg com semaglutida (diferença ~3,6 kg) em 40 semanas de tratamento [77, 78]. Tais diferenças são atribuídas ao efeito incretínico adicional via receptor de GIP, indisponível no tratamento com semaglutida.


Do ponto de vista farmacológico, a tirzepatida tem sido descrita como um agonista “desequilibrado” (imbalanced) – ela não estimula os receptores GLP-1 e GIP com igual intensidade, possuindo maior atividade relativa sobre GLP-1, porém suficiente ação de GIP para gerar sinergia [79] Isso foi proposital em seu design para maximizar perda de peso (mais atrelada ao GLP-1) sem reduzir os efeitos insulinotrópicos do GIP. Em contraste, agonistas GLP-1 puros como semaglutida ou liraglutida podem atingir um platô de eficácia devido à limitação de atuar por uma via única. Resumidamente, a tirzepatida difere do Wegovy®/Ozempic® por engajar dois mecanismos hormonais complementares, resultando em maior impacto tanto na glicemia quanto na saciedade [80]. Essa diferença se reflete clinicamente: a capacidade de redução ponderal da tirzepatida (~20% do peso) supera a da semaglutida (~15%), conforme discutido a seguir [81, 82].


Comparação com outros fármacos antiobesidade

Fora a classe incretina, existem outros medicamentos para obesidade com mecanismos distintos. Por exemplo, orlistate (Xenical®) atua inibindo a absorção intestinal de gorduras, fentermina (descontinuada no Brasil, mas utilizada em outros países) é um simpatomimético anorexígeno que reduz apetite via liberação de catecolaminas no hipotálamo, sibutramina (também um agente noradrenérgico/serotoninérgico, uso restringido devido a eventos adversos cardiovasculares) e as combinações como fentermina/topiramato ou bupropiona/naltrexona, que agem no sistema nervoso central modulando o apetite e recompensa alimentar. Comparativamente, a tirzepatida não atua diretamente em neurotransmissores centrais clássicos (como noradrenalina ou serotonina), mas sim através de hormônios periféricos que sinalizam ao cérebro. Com isso, tende a apresentar perfil de segurança diferente (por exemplo, não causa insônia ou taquicardia, efeitos vistos com simpaticomiméticos), focando os efeitos adversos no trato gastrointestinal, similares aos dos agonistas de GLP-1.


Na prática, a eficácia da tirzepatida em perda de peso supera a de todas as outras medicações atualmente aprovadas [82]. Enquanto agonistas de GLP-1 de última geração (semaglutida) e combinações como fentermina/topiramato se destacavam até então como terapias farmacológicas mais efetivas contra obesidade [83], a tirzepatida demonstrou eficácia ainda maior. Uma metanálise sistemática publicada em 2023, incluindo 154 estudos e diversas medicações antiobesidade, concluiu com alta certeza que “tirzepatida foi o fármaco mais efetivo em induzir perda de peso, seguida pela semaglutida” [84]. Nessa análise, terapias mais antigas apresentaram eficácia inferior: a perda de peso média atribuível a liraglutida 3,0 mg gira em torno de 8%, fentermina/topiramato cerca de 9–10%, bupropiona/naltrexona ~5–7%, e orlistate ~5% em um ano [85, 86] – todas aquém dos ~15% com semaglutida e ~20% com tirzepatida. A tabela a seguir resume a comparação de eficácia entre os principais fármacos para emagrecimento:



Tabela 1 – Comparação da eficácia de medicamentos antiobesidade. Observa-se que a tirzepatida apresenta a maior média de perda ponderal, atingindo cerca de 20% de redução do peso corporal, superando o até então líder [87]. Com exceção dos agonistas de GLP-1, os demais fármacos tendem a induzir perdas modestas (5–10%). Fontes: dados de estudos clínicos fase 3 e metanálises [88, 89, 90].


Portanto, em termos de tamanho de efeito, o Mounjaro (tirzepatida) tem se mostrado o melhor agente farmacológico isolado para perda de peso disponível atualmente. Essa eficácia aproxima-se mais da obtida com intervenções invasivas (cirurgia) do que com outros medicamentos, motivando comparações diretas com procedimentos bariátricos.

  1. Mounjaro vs Bariátrica: Qual Compesnsa Mais?

Com a eficácia surpreendente dos agonistas de incretinas, surge o questionamento de como eles se comparam às cirurgias bariátricas, consideradas o padrão mais efetivo de tratamento para obesidade severa. As principais técnicas bariátricas – bypass gástrico em Y-de-Roux e gastrectomia vertical (sleeve) – tipicamente resultam em perdas de 25% a 30% do peso corporal total em 1–2 anos, e até ~60–77% do excesso de peso [91]. Essas perdas são um pouco superiores às alcançadas pela tirzepatida nos estudos (20–22%), embora a diferença esteja diminuindo. Por exemplo, a perda média de ~20% com tirzepatida 15 mg em 72 semanas [92] é comparável à obtida com a gastrectomia sleeve (~20–25% em 1 ano) e se aproxima de alguns resultados do bypass (que pode atingir 25–30% em 12–18 meses). Assim, em termos de eficácia de emagrecimento puro, a cirurgia bariátrica ainda tende a produzir maior redução de peso, mas a margem de superioridade estreitou-se bastante [93]. Importante salientar que a variabilidade individual é grande – há pacientes em tirzepatida que perdem >30% do peso, assim como há pacientes com recuperação parcial após cirurgia.


Segurança e manutenção

A cirurgia bariátrica, por alterar permanentemente o trato gastrointestinal, costuma levar a perda de peso duradoura, com manutenção a longo prazo em grande parte dos pacientes (embora algum grau de reganho seja comum após 5–10 anos). Já a duração do tratamento medicamentoso varia com uma série de fatores, como o controle da sinalização da fome, metas de peso ou de avaliação metabólica. Assim, o tratamento pode durar de alguns meses a alguns anos.


Riscos e efeitos adversos

Procedimentos cirúrgicos carregam riscos inerentes ao ato operatório – infecção, sangramento, fístulas anastomóticas, tromboembolismo – embora em centros experientes a mortalidade seja baixa (<0,5%). Podem ocorrer efeitos crônicos como síndromes de má-absorção, deficiências nutricionais (necessidade de polivitamínicos) e complicações específicas (p.ex., hipoglicemia tardia pós-bariátrica). A tirzepatida, por sua vez, evita riscos cirúrgicos imediatos, mas apresenta efeitos colaterais farmacológicos crônicos, como distúrbios gastrointestinais (náusea, vômito, diarreia) e potenciais riscos de pancreatite e outros, discutidos adiante. Em termos de segurança cardiovascular a longo prazo, as cirurgias demonstraram reduzir eventos em pacientes com obesidade grave, enquanto para tirzepatida ainda se aguardam dados definitivos, embora os sinais sejam favoráveis [94].


Custos

A análise de custo depende do horizonte temporal. Cirurgias bariátricas costumam ter custo elevado inicial (procedimento hospitalar, equipe multidisciplinar), variando conforme o país e sistema de saúde. No Brasil, o custo privado pode oscilar entre R$ 20–40 mil (cirurgias frequentemente cobertas por planos de saúde dentro de critérios de indicação). Já o tratamento com tirzepatida envolve um custo mensal contínuo. No mercado brasileiro, o preço da tirzepatida é significativo: o tratamento mensal era anunciado em torno de R$ 1.400 para pacientes cadastrados em programa de desconto laboratorial [95, 96], e o preço de lista (sem subsídio) das doses iniciais é de ~R$ 1.900–2.300 por caixa (4 doses) [97]. Isso equivale a cerca de R$ 18–24 mil por ano, se mantido tratamento ininterrupto. Assim, em um único ano, o gasto com medicação pode aproximar-se do custo de uma cirurgia bariátrica. Considerando que a maioria dos pacientes necessitará usar tirzepatida por vários anos (ou indefinidamente) para manutenção de perda de peso, o custo acumulado do fármaco tende a superar o da cirurgia no longo prazo. Por outro lado, deve-se levar em conta cobertura: planos de saúde e sistemas públicos muitas vezes cobrem a cirurgia bariátrica (dentro de diretrizes), ao passo que a cobertura de medicamentos para obesidade é mais restrita – muitos pacientes teriam que arcar do próprio bolso com a tirzepatida, tornando-a potencialmente menos acessível.


A tabela abaixo sintetiza a comparação entre o tratamento farmacológico com Mounjaro e a cirurgia bariátrica (bypass gástrico como exemplo):


Tabela 2 – Comparação entre tratamento com tirzepatida e cirurgia bariátrica. Observa-se que a cirurgia ainda alcança maior perda de peso em média e dispensa terapia contínua, mas a tirzepatida aproxima-se desses resultados e apresenta perfil de risco diferente (sem os riscos operatórios imediatos). O custo do fármaco pode ultrapassar o da cirurgia em poucos anos de tratamento, tornando a questão econômica relevante na escolha terapêutica. Fontes: estudos clínicos e dados de mercado [98, 99, 100].


Quem se sai melhor? A resposta depende do contexto do paciente. Em indivíduos com obesidade grave e comorbidades importantes, a cirurgia bariátrica continua sendo a intervenção com maior probabilidade de perda de peso maciça e durável. Todavia, para muitos pacientes com obesidade moderada ou que não desejam/tenham contraindicação cirúrgica, a tirzepatida surge como uma alternativa não cirúrgica altamente efetiva. Essas não são abordagens excludentes, mas sim partes de um arsenal terapêutico: por exemplo, pode-se iniciar tratamento medicamentoso e, caso haja reganho ou insuficiência de resposta, considerar cirurgia, ou vice-versa. Em termos de desfechos de saúde (remissão de diabetes, melhora de hipertensão, redução de mortalidade), ainda acumularemos evidências para comparar diretamente, mas a expectativa é que a diferença diminua. Em suma, a cirurgia bariátrica permanece mais eficaz em perda de peso total e possivelmente mais custo-efetiva no longo prazo, porém a tirzepatida aproxima-se consideravelmente desses benefícios sem os riscos cirúrgicos – configurando-se como uma opção promissora, especialmente quando a cirurgia não é viável ou desejada.

  1. Indicações e Populações Beneficiadas

Indicação aprovada (on label): diabetes tipo 2

Atualmente, o Mounjaro® está aprovado – tanto internacionalmente quanto no Brasil – principalmente para o tratamento adjuvante do diabetes mellitus tipo 2. Conforme bula e registros oficiais, a tirzepatida é indicada em adultos com DM2 para melhorar o controle glicêmico, em associação a dieta e exercícios [101]. Pode ser usada isoladamente ou combinada a outros antidiabéticos orais (como metformina) e insulina, conforme necessidade clínica, tendo mostrado eficácia significativa inclusive em pacientes já em uso de insulina basal [102]. Devido ao seu duplo mecanismo, muitos pacientes com DM2 alcançam controle glicêmico estrito com tirzepatida – nos estudos, até 92% dos tratados com 15 mg/sem atingiram HbA1c <7% (meta recomendada) [103], e mais da metade chegou a HbA1c normal (<5,7%) [104]. Assim, é indicada especialmente naqueles com dificuldade de atingir metas glicêmicas com terapias padrão, sobretudo se convivem com sobrepeso ou obesidade. A diretriz da ADA (American Diabetes Association) já posiciona agonistas de GLP-1 como opção precoce em diabéticos com obesidade; a tirzepatida se insere nesse contexto por proporcionar controle duplo – glicemia e peso – com uma só medicação [105].


Indicação para obesidade/sobrepeso

Nos EUA e alguns países, a tirzepatida recebeu indicação formal para controle crônico de peso corporal. Conforme a FDA, é indicada para adultos com obesidade (IMC ≥30) ou sobrepeso (IMC ≥27) com ao menos uma comorbidade relacionada ao peso (p.ex. hipertensão, DM2, dislipidemia) [106], sempre aliada a dieta hipocalórica e exercício [107]. Essa indicação – sob o nome Zepbound® – equipara-se à de outros medicamentos antiobesidade. No Reino Unido, critérios semelhantes foram adotados ao expandir a bula do Mounjaro para manejo de peso. No Brasil, até o momento, essa indicação não consta na bula aprovada de tirzepatida (que se limita a DM2) [108]. Entretanto, considerando os resultados robustos dos estudos SURMOUNT e o pedido em tramitação na Anvisa [109], é provável que em futuro próximo a tirzepatida seja aprovada aqui para obesidade, possivelmente com critérios similares (IMC ≥30, ou ≥27 com comorbidades).


Populações específicas

A tirzepatida não foi testada nem aprovada em diabetes tipo 1, portanto não deve ser usada nesses pacientes. Também não é indicada para tratamento de cetoacidose diabética ou como substituta de insulina em pacientes insulinodependentes. A segurança e eficácia em crianças e adolescentes (<18 anos) ainda não estão estabelecidas – os ensaios até agora incluíram apenas adultos. Estudos pediátricos podem ocorrer no futuro, dado o interesse no tratamento da obesidade infantil, mas por ora o uso é restrito a maiores de 18 anos.


Entre os adultos, aqueles que mais se beneficiam da tirzepatida são os com DM2 e excesso de peso, nos quais o fármaco simultaneamente melhora o controle glicêmico e induz perda ponderal significativa, algo muito desejável para modificar a história natural do diabetes [110]. Também pacientes diabéticos com alto risco cardiovascular são candidatos importantes, já que terapias baseadas em incretina (como GLP-1 RAs) mostraram reduzir eventos e a tirzepatida possivelmente trará benefícios semelhantes [111, 112]. Para obesidade sem diabetes, a indicação se estende àqueles com IMC elevado que já tentaram medidas conservadoras sem sucesso – lembrando que diretrizes usualmente indicam farmacoterapia em quem não perdeu peso suficiente com mudanças de estilo de vida e tem IMC ≥30 (ou ≥27 com comorbidades) [113].


Condições especiais

Estudos estão explorando tirzepatida em esteatose hepática não alcoólica (NAFLD), dado seu potencial de reduzir gordura hepática e inflamação via perda de peso (resultados preliminares mostram redução significativa de gordura no fígado). Também houve aprovação (EUA) para uso em apneia do sono associada à obesidade, pois a perda de peso melhorou drasticamente a gravidade da apneia em um estudo. Em suma, a tirzepatida desponta como terapia multifacetada em pacientes cardiometabólicos, e suas indicações podem se expandir para diversas condições relacionadas à obesidade no futuro próximo.

  1. Contraindicações

Contraindicações absolutas

A tirzepatida carrega contraindicações semelhantes às dos agonistas de GLP-1 tradicionais, principalmente devido a dados pré-clínicos de segurança. A contraindicação principal é para pacientes com história pessoal ou familiar de carcinoma medular de tireoide (CMT) ou com síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2 (MEN 2) [114]. Isso se deve ao achado de indução de tumores de células C tireoidianas em estudos com roedores submetidos a agonistas de GLP-1 (incluindo tirzepatida) [115]. Embora não haja evidência de ocorrência de CMT em humanos até o momento, por precaução esse risco consta em caixa-preta e contraindica o uso nesses grupos de alto risco para câncer medular [116, 117].


Adicionalmente, o Mounjaro é contraindicado em pessoas com hipersensibilidade conhecida à tirzepatida ou a qualquer componente da fórmula [118]. Reações alérgicas graves à tirzepatida são raras, mas casos de anafilaxia foram relatados na classe dos incretinomiméticos, de modo que um antecedente desse tipo impede nova exposição.


Restrições e precauções

Não há outras contraindicações absolutas listadas, porém há situações em que o uso não é recomendando ou exige cautela extrema. Gestação e lactação: agonistas de GLP-1 não são indicados durante a gravidez, pois a perda de peso materna pode prejudicar o desenvolvimento fetal; nos estudos em animais com tirzepatida observaram-se anormalidades ósseas fetais em doses elevadas [119]. Portanto, mulheres em idade fértil devem usar contracepção efetiva durante o tratamento e suspender o fármaco pelo menos 2 meses antes de tentar concepção (dado a longa meia-vida do fármaco). Durante a amamentação, recomenda-se evitar o uso pela possibilidade de efeitos adversos no lactente (embora não se saiba se a tirzepatida é excretada no leite humano).


Pacientes com histórico de pancreatite devem ter cautela: ainda que não haja contraindicação formal, agonistas de GLP-1 foram associados raramente a casos de pancreatite aguda, então deve-se avaliar risco/benefício e monitorar sintomas abdominais nesses indivíduos [120]. De modo semelhante, gastroparesia severa ou doença gastrointestinal grave é mencionada nas precauções – a tirzepatida não foi estudada nesses contextos e, por retardar o esvaziamento gástrico e causar náuseas, poderia exacerbar tais condições [121].


Também não se deve associar tirzepatida a outro agonista de receptor de GLP-1 concomitantemente [122] (por exemplo, não combinar Mounjaro e Ozempic), pois não há estudo de coadministração e os perfis se sobreporiam, aumentando efeitos adversos sem evidência de benefício adicional.


Em resumo, não usar tirzepatida se: paciente ou familiar teve carcinoma medular de tiroide ou MEN2; história de reação anafilática à droga; e evitar usar se: gestante ou lactante; pancreatite prévia significativa; doença gastrointestinal grave preexistente (p.ex. gastroparesia avançada). Fora essas situações, a medicação pode ser prescrita, mas sempre com avaliação individualizada.

  1. Potenciais Efeitos Adversos

Tolerabilidade geral

A tirzepatida tem um perfil de segurança globalmente semelhante ao dos agonistas de GLP-1 já conhecidos, destacando-se os efeitos gastrointestinais dose-dependentes como os eventos adversos mais comuns. Em estudos clínicos, a maioria dos pacientes apresentou ao menos um sintoma GI transitório durante a escalada de dose, mas poucos descontinuaram o tratamento devido a isso [122]. Os principais efeitos colaterais relatados incluem:


  • Náuseas: O efeito adverso mais frequente, especialmente nas primeiras semanas de uso e após incrementos de dose. Incidência ~20–30% dos pacientes, geralmente de intensidade leve a moderada. É um efeito classicamente associado à ativação de GLP-1, resultante do retardo do esvaziamento gástrico e de sinais vagais de saciedade. Em grande parte dos casos, a náusea é temporária, melhorando em poucos dias ou semanas conforme o organismo se adapta.

  • Vômitos: Relatados em menor proporção (~10–15% dos pacientes nas doses mais altas). Assim como a náusea, tendem a ocorrer durante titulação ou após refeições copiosas. Recomenda-se orientar o paciente a comer porções menores e evitar alimentos gordurosos para mitigar esses sintomas.

  • Diarreia e/ou Constipação: Podem ocorrer alterações do hábito intestinal. Diarreia foi observada em ~15–20%, e constipação em porcentagem similar. Esses efeitos aparentemente opostos decorrem da modulação do trânsito intestinal pelas incretinas; alguns pacientes têm motilidade mais lenta (constipação), outros têm alteração na absorção de água e secreção intestinal (diarreia).

  • Redução do apetite: Embora não seja um “efeito adverso” no contexto de tratamento da obesidade, tecnicamente a diminuição do apetite é um efeito farmacológico presente e relatado como evento (pode contribuir para sintomas como leve aversão alimentar). Muitos pacientes descrevem alteração no paladar, sensação de satisfação precoce e menos interesse em comida.


Os efeitos listados acima geralmente são dose-dependentes – isto é, mais prevalentes e intensos em doses de 10–15 mg do que em 5 mg. A titulação gradual do Mounjaro (vide seção de administração) é precisamente para melhorar a tolerabilidade gastrointestinal. Em um estudo de fase 3, a taxa de abandono devido a eventos adversos GI variou de apenas ~5% na dose de 5 mg até ~16% na dose de 15 mg. No panorama real, estima-se que cerca de 10% dos pacientes não tolerem a dose-alvo máxima por sintomas persistentes, optando por manter dose intermediária ou suspender a terapia [123].


Outros efeitos comuns

Relativamente comuns são também: desconforto abdominal difuso ou dispepsia (relato de empachamento, queimação leve), eructação (arroto) e flatulência, todos associados ao efeito gastrointestinal do fármaco [124]. Alguns pacientes apresentam fadiga ou astenia leve nas primeiras semanas, possivelmente pela redução na ingestão calórica. Reações no local da injeção (eritema, prurido local) podem ocorrer, mas a maioria é leve e transitória, sem necessidade de interrupção [125].


Um efeito notável observado durante a perda de peso rápida com incretinas – e também com cirurgia bariátrica – é o eflúvio telógeno: queda difusa de cabelo. No estudo SURMOUNT-1, uma fração de pacientes relatou alguma perda capilar temporal, atribuída à grande perda de peso (pois emagrecimento rápido pode deflagrar eflúvio). A FDA listou alopecia como efeito adverso possível do Zepbound (incidência baixa, <3%) [126]. É algo a tranquilizar o paciente: costuma ser reversível com estabilização do peso e adequada ingestão proteica.


Efeitos metabólicos indesejados

A tirzepatida isoladamente não causa hipoglicemia significativa, devido ao efeito insulinotrópico depender da glicose elevada (portanto, quando a glicemia está normal/baixa, não hiperestimula insulina). Nos estudos, a incidência de hipoglicemia foi semelhante ao placebo, exceto quando em combinação com sulfonilureias ou insulina [127]. Assim, a hipoglicemia é uma preocupação principalmente quando o Mounjaro é usado junto com outros antidiabéticos que aumentam insulina; nesses casos pode ser necessário reduzir doses dos secretagogos [128].


Efeitos raros porém graves

Embora incomuns, merecem atenção:


  • Pancreatite aguda: agonistas de GLP-1 têm relato esporádico de pancreatite. Durante o desenvolvimento da tirzepatida, poucos casos ocorreram, sem diferença estatística para placebo, mas pelo mecanismo semelhante, há alerta de pancreatite. Sintomas de dor abdominal persistente devem levar à suspensão e investigação [129].

  • Colelitíase (cálculos biliares): a rápida perda de peso é fator de risco para formação de cálculos na vesícula. De fato, em tratamentos com semaglutida observou-se leve aumento de incidência de colecistite. A tirzepatida provavelmente compartilha essa predisposição. Pacientes devem ser monitorados para sintomas biliares e aconselhados a não perder peso de forma ainda mais acelerada que o proposto.

  • Insuficiência renal aguda: vômitos e diarreia intensos podem levar a desidratação e precipitar lesão renal aguda, especialmente em idosos ou quem já tem doença renal. Casos renais agudos foram reportados com GLP-1 RAs. Hidratação é fundamental se houver sintomas GI severos [130].

  • Retinopatia diabética agravada: curiosamente, no estudo de semaglutida para diabetes, houve maior incidência de piora de retinopatia em usuários de dose alta que tinham retinopatia prévia – possivelmente devido à redução glicêmica muito rápida. Com tirzepatida, observação similar foi feita: recomenda-se vigilância da retinopatia diabética, pois pode haver piora transitória em alguns pacientes com DM2 e doença ocular preexistente [131].

  • Ideação suicida: por precaução regulatória (dada a história de certos antiobesidade, como a rimonabanto), monitora-se sintomas neuropsiquiátricos. Houve relatos isolados de alterações de humor. A tirzepatida não mostrou sinal claro de aumento de depressão ou ideias suicidas nos estudos, mas as agências de saúde recomendam atenção a mudanças de comportamento e descontinuar se houver ideação suicida [132].

  • Células C tireoidianas: como mencionado anteriormente, em roedores a tirzepatida (como outros análogos de GLP-1) causou tumores de tireoide do tipo C. Em humanos, não se observa CMT atribuído à medicação, e o mecanismo de tumor em rato parece específico à fisiologia de roedores [133]. Ainda assim, a bula contém esse aviso e contraindicação relativa, mas não exige monitorização rotineira de calcitonina (apenas se houver suspeita clínica de nódulo tireoidiano). Recomenda-se orientar o paciente a relatar sintomas como massa cervical ou rouquidão persistente.


No geral, a segurança a longo prazo da tirzepatida tem se mostrado boa, com perfil de eventos adversos predominantemente gastrointestinal e manejável [134]. Grande parte dos pacientes consegue continuar o tratamento após a fase inicial de adaptação. Em metanálise de 2024, concluiu-se que a tirzepatida é bem tolerada, semelhante aos agonistas de GLP-1 seletivos, e que o principal desafio é manejar os efeitos GI nos ajustes de dose. A aderência tende a ser favorecida pela administração semanal e pelos resultados motivadores em peso e glicemia, mas é crucial acompanhamento próximo, especialmente nos primeiros meses, para suporte quanto aos efeitos adversos e educação do paciente.

  1. Como Tomar

A tirzepatida é administrada por injeção subcutânea semanal. As aplicações podem ser feitas no abdome, coxa ou braço (parte posterior), semelhantes às regiões usadas para insulina, rotacionando os locais para evitar irritação cutânea. O medicamento é disponibilizado em canetas autoinjetoras descartáveis, pré-carregadas com dose única, facilitando o uso pelo próprio paciente [135]. A caneta é prática: basta remover o lacre, encostar na pele e pressionar o botão disparador, mantendo alguns segundos [136]. Após a injeção, a caneta é descartada (material perfurocortante). Essa forma de apresentação visa maximizar a aderência e reduzir erros de dose.


Esquema de doses

O tratamento com Mounjaro inicia-se habitualmente com dose baixa de 2,5 mg uma vez por semana [137]. Essa dose inicial não tem intuito pleno de controle glicêmico ou de peso, e sim de habituar o organismo, minimizando efeitos adversos gastrointestinais [138]. Após 4 semanas em 2,5 mg, aumenta-se para 5 mg/semana. Subsequentemente, pode-se continuar titulando em incrementos de 2,5 mg a cada 4 semanas, conforme tolerância e necessidade clínica, seguindo: 7,5 mg/semana, depois 10 mg/semana, 12,5 mg/semana e, por fim, 15 mg/semana como dose máxima recomendada [139, 140]. Em ensaios clínicos, a maioria dos pacientes atingiu doses entre 10 e 15 mg. Na prática, muitos podem estacionar em 10 mg se atingirem bom controle e estiverem satisfeitos, escalando além disso apenas se precisarem de maior efeito (por exemplo, se peso e glicemia estabilizarem antes do objetivo).


Cabe frisar que a titulação lenta (4 semanas entre aumentos) é fundamental: pular etapas ou acelerar pode precipitar náuseas/vômitos intensos. Portanto, não se deve aumentar a dose antes de 4 semanas completas em cada patamar [141]. Se o paciente não tolerar a dose atual, pode-se considerar mantê-lo mais semanas naquela dose antes de tentar novo aumento, ou até reduzir caso os efeitos adversos sejam significativos. A dose de 15 mg/semana é a máxima aprovada; não há evidência de benefício adicional acima disso, e doses maiores não foram estudadas.


Duração do tratamento

Para diabetes tipo 2, a tirzepatida é pensada como terapia crônica de manutenção. Para obesidade, igualmente, os estudos suportam uso prolongado, sem tempo definido de interrupção – analogamente a outras doenças crônicas, a medicação funciona enquanto está presente; suspensa, ocorre reversão dos efeitos (ganho de peso). Assim, o plano deve ser de uso contínuo a longo prazo, salvo se ocorrem razões para suspender (gestação, eventos adversos, etc.). No SURMOUNT-1, participantes que interromperam a tirzepatida após 72 semanas tiveram recuperação significativa de peso em relação àqueles que continuaram, reforçando a necessidade de manutenção para sustentar os benefícios [142].


Ajustes específicos

Em pacientes com insuficiência renal leve a moderada não é necessário ajustar dose. Em insuficiência renal avançada, a experiência é limitada, mas como a tirzepatida não é excretada inalterada pelos rins (é um peptídeo catabolizado sistemicamente), não se espera acúmulo – ainda assim, prudência em DRC estágio terminal. Na insuficiência hepática leve/moderada, também não há ajuste; na grave, não foi estudada. Idosos podem usar normalmente, ajustando se maior sensibilidade a efeitos adversos.


Esquecimento de dose

Se o paciente esquecer de aplicar no dia programado, a orientação é administrar assim que lembrar, desde que haja pelo menos >48h até a próxima dose programada; caso contrário, pule a dose esquecida e retome na data regular seguinte. Não se deve aplicar duas doses próximas para compensar.


No contexto brasileiro, as primeiras doses disponíveis (2,5 e 5 mg) servem justamente para o início e primeiro aumento [143]. Espera-se que em seguida sejam introduzidas as apresentações de 7,5 mg, 10 mg, etc., acompanhando o esquema global. O profissional deve instruir o paciente sobre o uso correto da caneta – felizmente, é simples, e a grande maioria consegue autoaplicar sem dificuldades após demonstração [144].


Em resumo, o Mounjaro segue posologia semanal, escalonada gradualmente de 2,5 até 10–15 mg conforme resposta e tolerância, administrado por via subcutânea. Essa conveniência posológica (apenas 1x/semana, caneta preencheia) tem sido apontada como uma vantagem prática frente a medicações orais diárias ou injetáveis mais frequentes no tratamento da obesidade e diabetes.

  1. Mounjaro: Emagrecer Sem Mudar Hábitos?

Um ponto crucial a enfatizar ao paciente é que nenhum medicamento substitui a necessidade de hábitos de vida saudáveis. O Mounjaro, apesar de eficaz, deve ser visto como adjuvante a mudanças de estilo de vida, isto é, como um facilitador da implementação de hábitos saudáveis, como a melhoria na qualidade da dieta e prática regular de exercícios físicos.


Dieta

Recomenda-se que o paciente mantenha uma alimentação balanceada, rica em proteínas magras, vegetais, fibras e pobre em ultraprocessados. Além de potencializar a perda de peso, isso ajuda a mitigar efeitos gastrointestinais (refeições pesadas e gordurosas, por exemplo, podem intensificar náuseas no uso do fármaco) e evitar possíveis carências nutricionais ocasionadas pela redução da quantidade de alimentos ingeridos.


Ademais, a reeducação alimentar é fundamental para a manutenção do peso perdido a longo prazo – se o paciente desenvolve hábitos alimentares mais saudáveis enquanto emagrece com auxílio do medicamento, terá mais facilidade em preservar os resultados após sua suspensão. Vale lembrar que a tirzepatida reduz o apetite e melhora o controle de impulsos alimentares, o que pode ser uma janela de oportunidade para o paciente adotar uma dieta de melhor qualidade nutricional, sentindo menos dificuldades do que sentiria sem a medicação.


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Exercícios físicos

Da mesma forma, a prática regular de exercícios é incentivada. O déficit calórico alcançado com o uso do medicamento, pode, eventualmente, causar não só emagrecimento, mas também perda de massa magra. No SURMOUNT-1, embora a grande maioria do peso perdido tenha sido de gordura, houve redução aproximada de 3–5% na massa magra em alguns pacientes [145]. O problema da perda de massa muscular é que, sendo este o tecido mais ativo do organismo, reduzi-lo significa diminuição do gasto energético, e portanto, maior dificuldade em manter o peso perdido. Nesse sentido, exercícios resistidos (praticados com peso) podem atenuar a perda muscular. Além disso, a atividade física melhora a capacidade cardiopulmonar e traz benefícios metabólicos independentes, como melhora da sensibilidade à insulina (aditiva aos efeitos do fármaco).


Portanto, exercício e dieta continuam pilares fundamentais do tratamento, com a tirzepatida atuando como ferramenta para atingir metas que antes eram inalcançáveis para muitos pacientes sozinhos.


Expectativas realistas

O paciente deve ser orientado sobre o grau de perda de peso esperado e a variabilidade individual. Em média, pode-se esperar reduções de ~15% do peso em 1 ano com tirzepatida 10 mg e até ~20% em 1 ano e meio com 15 mg [146], mas esses números variam de acordo, principalmente, com a adesão à dieta. É importante comunicar que a perda de peso é gradual – nas primeiras 4–8 semanas a redução pode ser modesta (alguns quilos), aumentando conforme as doses sobem e os meses passam.


Efeito rebote

Não existe efeito rebote com a suspensão do uso do medicamento Mounjaro - e todos os outros medicamentos utilizados no tratamento da obesidade. O que pode acontecer é que, pelo mecanismo inibitório do medicamento na sinalização da fome, suspendê-lo pode fazer com que o paciente sinta mais fome, e, se durante o uso não houver ajuste dos hábitos, tende-se a comer mais, recuperando, assim, o peso perdido.


Mudanças no estilo de vida durante o tratamento

Além do efeito do medicamento como sacietógeno, o que, por si, é suficiente para ajudar na mudança do estilo de vida, curiosamente, muitos pacientes relatam que, sob efeito da tirzepatida, sentem-se mais leves e dispostos, facilitando ainda mais a adesão à dieta e adoção de exercícios – um ciclo virtuoso.


Qualidade de vida e bem-estar

Os pacientes podem esperar, além do emagrecimento, várias melhorias: controle do diabetes (muitos reduzem ou suspendem insulina e outros medicamentos), diminuição da pressão arterial, melhora no colesterol e triglicérides, menos apneia do sono (ronco), alívio em dores articulares pela redução da carga de peso, etc. [146, 147]. Relatos de melhora na mobilidade, energia e autoestima são comuns conforme o peso cai. No entanto, deve-se considerar também possíveis desconfortos temporários: náuseas ou alterações gastrointestinais podem ocorrer, mas que esses sintomas tendem a diminuir e que os benefícios de prosseguir superam esses incômodos na maioria dos casos auxilia na adesão.


Em suma, o paciente pode realmente esperar perdas de peso substanciais e melhoria de saúde com o Mounjaro, mas não deve negligenciar dieta e exercício, que permanecem componentes essenciais do tratamento. O medicamento não age magicamente, de modo a permitir hábitos pouco saudáveis sem consequências; ao contrário, funciona melhor inserido num contexto de mudança de estilo de vida. Quando todos esses elementos se combinam – farmacoterapia, reeducação alimentar, atividade física e suporte médico contínuo – os resultados atingíveis são significativos e definitivos [148].

  1. Importantes Considerações Ético-sociais

A ascensão de medicamentos como a tirzepatida traz não apenas considerações médicas, mas também questões éticas e sociais relativas ao manejo da obesidade e do metabolismo humano. Exploraremos alguns desses aspectos:


Redefinição da obesidade como doença tratável

Ainda é comum que a obesidade seja encarada exclusivamente como resultado de falta de força de vontade, gula ou preguiça, o que, invariavelmente, leva a estigma e julgamento moral impreciso dos indivíduos com excesso de peso. Essa perspectiva, muitas vezes reducionista e simplista, negligencia outros fatores que contribuem com a causa da doença. Com o surgimento de fármacos eficazes como o Mounjaro, testemunhamos uma quebra de paradigmas: a obesidade se firma cada vez mais como condição médica crônica passível de intervenção terapêutica, semelhante, neste aspecto, a hipertensão ou asma, dando aos obesos nova perspectiva de sucesso no combate à doença.


Autonomia e responsabilização

Por outro lado, levanta-se a preocupação de que esses medicamentos fomentem a noção de “pílula mágica”, desresponsabilizando o indivíduo de qualquer esforço pessoal. Há quem argumente que depositar nos medicamentos a solução de um problema tão complexo quanto a obsedidade, teria como efeito a negligência da ênfase na necessidade de mudanças nos hábitos (melhor alimentação, combate ao sedentarismo etc.).


Equidade e acesso

Uma grande preocupação social é a acessibilidade desses novos tratamentos. O Mounjaro, assim como o Wegovy, tem custo elevado e cobertura de seguros limitada. Isso levanta questões de justiça distributiva: somente os pacientes abonados poderão se beneficiar de tal avanço?


Sem cair em extremos, isto é, de afirmar, por um lado, que nada se pode fazer a esse respeito ou, por outro lado, de defender a distribuiçao "gratuita" no Sistema Único de Saúde ou sua incorporação irrestrita na cobertura dos planos de saúde, é necessário que o debate seja fomentado para que se chegue a uma conclusão justa e viável.


Uso estético vs. terapêutico, o problema dos "remédios para emagrecer" ou das "canetas emagrecedoras"

Outra questão envolve o uso inadequado do medicamento, sem indicação formal. Isso vai de encontro às indicações aprovadas, desperdiça recursos, dificulta ainda mais o acesso ao medicamento para quem realmente precisa - como aconteceu com o Ozempic -, além de expor pessoas a riscos desnecessários.


A banalização do uso do medicamento, disseminado sobretudo por famosos de redes sociais, chega ao ponto de atribuir aos medicamentos mais eficazes contra a que talvez seja a prncipal doença do nosso século, a obesidade, o slogan de "remédio para emagrecer" ou "caneta emagrecedora", o que distorce e falseia totalmente o modo como profissionais sérios veem o medicamento. Boa parte da comunidade médica e regulatória, ciente de tais problemas, têm respondido à altura, e restrições, como a receita controlada citada no Brasil [149], já estão em vigência.


Impacto psicológico e social da perda de peso

Há implicações psicossociais importantes quando um paciente perde muito peso rapidamente. Enquanto muitos experimentam grande melhora de autoestima e inserção social, outos podem enfrentar desafios psicológicos – por exemplo, lidar com “excesso de pele” após emagrecimento. Portanto, idealmente o tratamento farmacológico viria acompanhado de apoio psicoterapêutico ou grupos de apoio, ajudando o indivíduo a ajustar-se às mudanças e manter mente saudável.


Interesses comerciais e pesquisa futura

Com o sucesso do Mounjaro, iniciou-se uma corrida farmacêutica por novos agentes antiobesidade. Estimam-se mais de 100 moléculas em desenvolvimento visando esse mercado bilionário [150]. Isso traz preocupações como: quais serão os preços? Haverá transparência nas pesquisas? A pressão de mercado poderia atropelar etapas de segurança? Felizmente, os estudos do Mounjaro até aqui foram bem conduzidos e publicados em periódicos de alto impacto. Mas é vital manter rigor científico e regulatório em meio ao entusiasmo, para não repetir erros do passado (medicamentos antiobesidade lançados sem adequada avaliação já causaram danos, vide anfetaminas nos anos 60, ou o caso do rimonabanto retirado por efeitos psiquiátricos). Os médicos devem se atualizar constantemente e basear decisões em evidências e guidelines, não apenas em marketing.


De maneira pragmática, o consenso atual é que a chegada de medicamentos como o Mounjaro é um avanço positivo e necessário no combate a enfermidades crônicas prevalentes.


Conclusões

O Mounjaro® (tirzepatida) desponta na medicina contemporânea como um fármaco transformador no manejo do diabetes tipo 2 e da obesidade. Fruto de um notável avanço científico – a combinação inédita de dois hormônios incretínicos em uma única molécula – a tirzepatida demonstrou em ensaios clínicos de boa qualidade uma eficácia sem precedentes, reduzindo substancialmente a glicemia e promovendo perdas ponderais similares às observadas em procedimentos cirúrgicos. Desde seu desenvolvimento pela Eli Lilly em 2016 até as aprovações regulatórias globais em 2022–2023, o caminho da tirzepatida tem sido marcado por resultados clínicos surpreendentes e entusiasmo da comunidade médica.


Este artigo revisitou de forma abrangente os principais aspectos dessa nova terapia:


(1) O Mounjaro é um agonista dual de GIP/GLP-1, desenvolvido a partir do conceito de “twincretinas” e lançado comercialmente em 2022 nos EUA e 2023 no Brasil, trazendo ao mercado uma opção inovadora para diabetes e potencialmente obesidade.

(2) Sua notoriedade decorre da magnitude de seus efeitos – mais controle glicêmico e mais emagrecimento – o que se traduziu em alta demanda e vendas expressivas mundialmente, ao mesmo tempo suscitando discussões sobre acesso e regulação de uso.

(3) Mecanisticamente, a tirzepatida age nos eixos pancreático, cerebral e periférico: aumenta sensibilidade à insulina e saciedade, diminui glucagon e retarda esvaziamento gástrico, melhorando diversas vias metabólicas.

(4) Diferencia-se de medicamentos anteriores (p.ex. semaglutida) por ativar duplamente receptores hormonais, explicando sua eficácia superior.

(5) Em termos de tamanho de efeito, consolidou-se como a farmacoterapia mais potente para perda de peso atualmente, superando outras medicações antiobesidade – isso foi evidenciado por múltiplas comparações e tabelas apresentadas.

(6) Em comparação aos procedimentos bariátricos, observamos que embora a cirurgia mantenha vantagem na quantidade média de perda de peso e independa de uso contínuo de fármacos, a tirzepatida oferece uma alternativa não invasiva com eficácia similar e perfil de riscos diferente. Um balanço de fatores individuais (gravidade da obesidade, comorbidades, preferências, acesso) guiará a escolha entre medicação e cirurgia, sendo provável que muitos pacientes transitem por ambas as modalidades em diferentes fases.

(7) As indicações formais da tirzepatida abrangem hoje adultos com DM2 e, em certos países, obesidade/ sobrepeso com comorbidades; enquanto isso, off-label, ela vem sendo empregada com critério por especialistas em obesidade grave.

(8) As contraindicações restringem seu uso em contextos de risco de carcinoma medular de tireoide, reações alérgicas e recomendam cautela em pancreatite, gestação e outras situações especiais.

(9) Os efeitos colaterais, principalmente gastrointestinais, são comuns porém manejáveis e tendem a diminuir com o tempo e titulação adequada; eventos graves são raros e em geral compartilhados com a classe dos incretinomiméticos.

(10) A administração semanal subcutânea e o esquema de titulação foram detalhados, reforçando a necessidade de escalonamento gradual e adesão de longo prazo.

(11) Ressaltou-se que a tirzepatida não exime a manutenção de dieta saudável e exercícios – ao contrário, potencializa os resultados quando em conjunto – e que pacientes devem ter expectativas realistas e compreensão da natureza contínua do tratamento para manutenção de benefícios.


Nas implicações éticas e sociais, conclui-se que o advento do Mounjaro simboliza uma mudança de paradigma: temos agora ferramentas para tratar agressivamente a obesidade como doença, o que obriga o sistema de saúde a se adaptar, garantindo que essa inovação seja utilizada com equidade e responsabilidade. A jornada do paciente obeso/diabético tende a melhorar substancialmente com medicações como a tirzepatida, mas ainda depende de suporte multidisciplinar abrangente (nutricional, psicológico, educacional).


Do ponto de vista da prática médica, o Mounjaro já é considerado por muitos “o principal lançamento da história” da Eli Lilly [151] e possivelmente um dos avanços mais significativos na medicina das últimas décadas. Os resultados obtidos com a tirzepatida abrem caminho para que mais pacientes alcancem metas clínicas antes inatingíveis – como controle glicêmico rigoroso sem hipoglicemias, ou perdas de peso que transformam sua saúde. Ao mesmo tempo, sua utilização requer cuidadosa seleção de pacientes, monitorização atenta e integração em planos terapêuticos completos.


Em conclusão, o Mounjaro (tirzepatida) representa um extraordinário progresso técnico-científico com impacto direto na prática clínica, trazendo melhor controle metabólico e esperança renovada a milhões de pessoas com diabetes e obesidade. Cabe aos profissionais de saúde aplicar esse recurso com excelência técnica e ética, e aos gestores e formuladores de políticas de saúde trabalharem para tornar essa inovação acessível. Assim, poderemos concretizar plenamente o potencial desse medicamento revolucionário – salvando vidas, melhorando qualidade de vida e reduzindo o ônus global das doenças metabólicas. Os próximos anos certamente trarão mais dados de segurança de longo prazo, expansões de indicação e novas moléculas baseadas nesse conceito dual/triple incretin; mas por ora, a tirzepatida já se firmou como um marco na história do tratamento metabólico, reunindo evidências contundentes de eficácia e segurança que respaldam seu uso judicioso em prática clínica.


Referências:


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Dr. Eduardo Fidelis

Médico CRM 206808 | Pós-graduado em Nutrologia Esportiva

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