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Suplementação no Futebol: Análise de Estudo

Estudo recente afirma que a suplementação com caseína e probióticos aumentam a performance no futebol, mas esconde fragilidades metodológicas graves.


“Não existe alimento milagroso, suplemento perfeito ou protocolo infalível. Existe, sim, o ceticismo como regra metodológica.”


Com essa advertência em mente, é necessário examinar com rigor os estudos que ganham espaço na literatura da nutrição esportiva. O trabalho de Sadeghi et al. (2025), publicado no Journal of the International Society of Sports Nutrition, propõe que a ingestão de caseína associada a probióticos, quando realizada antes do sono, melhora a força e potência anaeróbica em atletas. À primeira vista, trata-se de um estudo bem elaborado, com desenho apropriado e resultados aparentemente confiáveis. No entanto, ao se aplicar uma leitura crítica, suas conclusões perdem substância e aplicabilidade.


Formalmente, o delineamento do estudo é atraente: ensaio clínico randomizado, duplo-cego, com grupo placebo e medidas de desfecho objetivas. Obteve 7 pontos na escala PEDro, sinalizando qualidade moderada. Contudo, falhou em pontos essenciais: não houve ocultação da alocação, os administradores da intervenção não foram cegados e tampouco se utilizou análise por intenção de tratar. Esses fatores comprometem a validade interna do estudo, abrindo margem a vieses de condução e análise.


Mais problemático ainda é o desleixo com fatores de confusão. Nenhum controle ou ajuste foi feito para fatores cruciais como qualidade da dieta habitual, qualidade do sono, intensidade dos treinos , estágio da temporada de competição ou uso prévio de suplementos. A ausência dessa análise multivariada compromete a interpretação dos resultados.


Os desfechos avaliados foram exclusivamente fisiológicos indiretos e intermediários: torque isocinético, potência média em testes anaeróbicos, resistência isométrica. Prefere-se, nesses casos, que o efeito da suplementação seja medido com desfechos duros, como desempenho em campo ou tempo de recuperação. Desse modo, afirmar melhora "na performance esportiva" parece desproporcional, uma extrapolação inapropriada de seus resultados. Ademais, trata-se de uma intervenção de aplicação restrita, uma vez que o grupo amostral foi de atletas profissionais de futebol jovens. Sua aplicabilidade a outros grupos (mulheres, idosos, praticantes de outros esportes etc.), portanto, não é recomendada.


Mesmo sob a ótica da inferência bayesiana, o estudo pouco acrescenta. A literatura prévia sobre probióticos na performance atlética é ambígua, com resultados contraditórios e efeito modesto. Um estudo com amostra pequena e sem controle de confundidores como este não tem força preditiva suficiente para alterar o estado de crença sobre a eficácia desses suplementos no desempenho esportivo. Em suma, a probabilidade pós-teste de benefício permanece baixa.


Conclusão

O trabalho de Sadeghi et al. ilustra uma tendência preocupante da ciência aplicada à nutrição esportiva: a proliferação de estudos que, mesmo com verniz estatístico, carecem de consistência clínica e relevância prática. Embora bem desenhado em aparência, falha em aspectos estruturais que o invalidam como fundamento para qualquer recomendação terapêutica. Sua principal contribuição é negativa: reforça a necessidade de rigor, ceticismo e vigilância epistemológica ao interpretar evidências emergentes.


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