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Suplementação Proteica Pós-Bariátrica: Revisão de Artigo

Atualizado: 31 de out. de 2024

Uma análise crítica do estudo sobre suplementação proteica pós-bariátrica, revelando os pontos fortes e limitações metodológicas, além de expor o verdadeiro impacto das estratégias de suplementação no consumo de proteína e na satisfação dos pacientes.


Nos últimos anos, a cirurgia bariátrica tem sido promovida como a grande solução para a obesidade, prometendo emagrecimento significativo e redução dos riscos associados às doenças metabólicas. Mas seria essa panaceia que muitos acreditam? Um dos grandes desafios negligenciados após a cirurgia é a preservação da massa muscular, tecido que tem enorme influência em diversos aspectos do organismo, como o sistema imune e até mesmo o endócrino. Sua redução, portanto, pode comprometer a saúde do indivíduo.


O fornecimento adequado de proteínas é uma das formas de minimizar o risco de perda muscular durante o processo de emagrecimento. Porém, grande parte dos pacientes submetidos a procedimento cirurgico tem dificuldade de ingerir a quantidade mínima recomendável desse nutriente. É por isso que a suplementação proteica torna-se uma peça fundamental deste quebra-cabeça. Mas qual seria a melhor estratégia de suplementação de proteínas para pacientes pós-bariátricos? O estudo “Protein Supplement Tolerability and Patient Satisfaction after Bariatric Surgery”, publicado em 7 de setembro de 2024 na revista Obesity Surgery, procura responder a essa questão ao comparar cinco estratégias de suplementação proteica e avaliar seu impacto na tolerabilidade, satisfação e consumo de proteína dos pacientes pós-bariátricos.


Pontos Fortes e Fracos do Estudo

O estudo avaliou 94 pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, divididos em grupos que receberam diferentes suplementos proteicos – whey protein, colágeno hidrolisado, proteína vegetal, produtos proteicos e gel proteico – ou foram alocados no grupo controle. Medidas de tolerabilidade e satisfação - termo não definido pelos autores - foram feitas por meio de questionários, enquanto a ingestão de proteína foi monitorada utilizando um aplicativo. Observou-se um aumento na ingestão proteica principalmente nos grupos que utilizaram whey (+18,3g/dia, p = 0,009) e colágeno hidrolisado, além de uma melhoria na satisfação em relação ao colágeno.


No entanto, a metodologia utilizada apresenta limitações significativas que comprometem a aplicabilidade dos resultados. A pontuação de 5/10 na escala PEDro já é um forte indicativo disso: a ausência de alocação aleatória compromete a validade interna do estudo, introduzindo um risco considerável de viés de amostragem. A falta de cegamento dos participantes e avaliadores também não pode ser ignorada, pois aumenta o risco de viés de expectativa e aferição. Esses são erros metodológicos básicos que, sinceramente, um estudo sério deveria evitar. Embora a taxa de adesão à intervenção tenha sido alta (87%), a falta de análise por intenção de tratamento limita consideravelmente a interpretação dos resultados, ignorando os impactos das desistências.


A falta de cegamento é especialmente preocupante, pois o sabor dos suplementos foi claramente um fator determinante na adesão dos pacientes. Mais da metade dos participantes (61%) relatou não ter tido queixas alimentares, mas 58% rejeitaram os suplementos por causa do sabor. É difícil não questionar se o real problema está na eficácia dos suplementos ou na incapacidade dos fabricantes de oferecer algo que os pacientes consigam consumir sem repulsa. Afinal, de que adianta um suplemento eficaz se ninguém consegue suportar seu gosto?


Outro ponto que merece destaque é a suplementação com colágeno hidrolisado, um suplemento amplamente discutido na fisiologia muscular. Seu uso pode ser justificado em dietas com baixa ingestão proteica, como ocorre frequentemente entre indivíduos pós-bariátricos, pois oferece uma fonte de proteína que pode ajudar a suprir deficiências nutricionais. No entanto, até o momento, as evidências indicam que o colágeno é ineficaz para o aumento da massa muscular em indivíduos que já consomem quantidades adequadas de proteína, e, mesmo em outros contextos, seu efeito é claramente inferior ao do whey protein. Por isso, a exaltação desse suplemento no estudo em questão parece desproporcional.


Conclusão

Embora o estudo sobre suplementação proteica após cirurgia bariátrica apresente resultados promissores em termos de aumento na ingestão proteica, suas limitações metodológicas são graves e não podem ser ignoradas. A ausência de randomização e cegamento compromete a validade dos resultados, enquanto a falta de análise por intenção de tratamento restringe a confiabilidade das conclusões. No entanto, fica claro que as estratégias de suplementação proteica são necessárias e, quando bem toleradas, podem melhorar significativamente a ingestão proteica dos pacientes. É imperativo, para tal, urgentes melhorias na formulação dos suplementos e na personalização do tratamento para garantir resultados mais robustos e sustentáveis.


Compartilhe este artigo para ajudar mais pessoas a obter informações seguras e eficazes sobre suplementação pós-cirurgia bariátrica.

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